Às pessoas que lêem
Um dia destes, pouco depois de aprontar esta novela, me deparei com uma discussão ainda pequena sobre o futuro da nossa língua escrita estar cedendo lugar para isto que alguns grupos usam ao se comunicar na internet. Alguma gente considerando até que aquele será mesmo o dia seguinte. Quer dizer: o amanhã sem a língua portuguesa. Pior, sem comunicação das próximas gerações com o que já escrevemos em português até aqui.
Perceba, leitora, perceba, leitor, que vingando aquela hipótese, não teríamos mais as vogais, a acentuação tônica, para ficar no mínimo. E tente adivinhar em que língua soariam as consoantes. Não necessita consultar um caingangue, um guarani, um maia, um asteca, um sioux ou um iorubá para saber.
O dia do descanso de Deus é uma novela que se oferece à leitura em Português e tenta ser o mais próxima da língua escrita e falada por estas bandas no milênio passado, antes da ocupação promovida na revolução informatizada, ambientada que está entre os anos 1950 e 1970.
Já foi escrita no século 21, em computador, até com alguma pesquisa pela internet, sim. Aparece como prova de que a ferramenta não exige uma língua própria, no entanto. Naquele período também houve uma gíria local, que a língua incorporou e que tonificou a linguagem e mesmo a escrita. Não foi nem o futuro, nem é passado. Foi viva e criativa. Coexistiu em movimento de superação, conservando o melhor da relação entre o novo e o antigo.
O dia do descanso de Deus não é, então, só uma ação de resistência pela Língua Portuguesa. É também uma experiência minha com você que tem ciência e gosto pela linguagem e vai ler este escrito em qualquer tempo no futuro, em que ambos percebemos não só a importância das vogais, mas a necessidade do efêmero, do perene, do diverso e do comum, do local e do universal.
A novela fala disto também e dos pactos de gente simples sobre amor e honra, ódio e desonestidade. Que existem no mundo.
É uma novela mundana, do milênio passado, mas contemporânea, que pretende um futuro em companhia dos movimentos da Última Flor do Lácio.
O título não quer polemizar sobre o divino ou o sagrado.
É uma homenagem ao dito popular Deus descansa, o Diabo toma conta, quando aconteceriam as tragédias e desgraças, embora muitos resistam a esta idéia e eu não sou quem as confirme, apenas quem as emprestou do povo.
Sou uma pessoa já muito agradecida à leitura que dedicas a este escrito.
Espero, sinceramente, que tenhas da novela toda uma boa experiência.
Adroaldo Bauer
(Dedicatória às pessoas que lêem inscrita na novela de minha autoria O Dia do Descanso de Deus, lançada a público em 31.05.2007, a edição eletrônica em .pdf está disponibilziada grátis em http://retornoimperfeito.blogspot.com).