Um apelo de quem já se foi

Querido você,

Se esta carta está sendo lida então significa que consegui, estou morto.

Estou escrevendo ela na minha pequena e velha escrivaninha, que fica ao lado da minha cama onde me deitarei pela ultima vez esta noite, assim que terminar de escrever nessa pequena folha, com a minha caligrafia caprichada.

Bem, eu estou cansado, cansado de ser lúcido nesse mundo de loucos que acham que vivem em plena lucidez. O que eu quero dizer é que, olhe em volta... Há alguma lucidez em tanta tragédia? Tanta loucura disfarçada, preciso respirar em meio a lúcidos como eu, que vejam a verdade camuflada nas paginas de um jornal ou nas imagens da televisão. Eu procurei diversos meios de encontrar um alivio, procurei pessoas que me entendessem, mas no final... No final, aqui estou eu, solitário escrevendo uma carta de despedida para você, mas não é só uma carta de despedida, é um apelo para que entenda minhas razões, um pedido e uma ajuda. Pense, olhe a sua volta, veja esse mundo que acha ter salvação, a única salvação, o único meio de conseguir continuar lucido é se deixar perder nesse mundo de loucura a procura de um lugar onde a lucidez não seja identificada como uma bizarrice qualquer, eu preciso me encontrar, preciso parar de escrever também, pois talvez você, como muitos outros, não tenha paciência para uma leitura porque já se perdeu e se acostumou com a essa sociedade. Está tudo pronto, se tudo der certo, amanha estarei salvo em meio a minha lucidez, mas não sei quando esta carta será lida, talvez tarde demais... ou não, de qualquer jeito, isso é uma despedida de quem já e foi, então adeus e um abraço do seu amigo,

Suicida.

Bianca Gonçalves
Enviado por Bianca Gonçalves em 29/07/2015
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