Inesquecível mamãe

“Da vez primeira em que me assassinaram,

Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.

Depois, a cada vez que me mataram,

Foram levando qualquer coisa minha.”

(Mário Quintana)

Nem sei como começar. Não tenho prática. Nestes quarenta anos nunca te escrevi.

Mas hoje crie coragem e te escrevo para te contar as novidades.

Sinto que a senhora sabe que já não sou mais aquele menino que tinha vergonha de tudo, até de demonstrar meu amor por você. Cresci, os irmãos cresceram e apesar das dificuldades fomos todos superando etapas.

Eu não tinha como saber que você partiria tão jovem. Talvez se soubesse teria feito diferente.

Teria te curtido mais. Criança não pensa nisso, ao menos eu, naquela idade não pensava,

Lembro como se fosse hoje o dia que você teve que ir. Tanto tempo, mas a memória não se esquece de nada. Todos me deram uma especial atenção, tentaram me distrair. Eu era tão menino, tão inocente que mal sabia o que significava aquele momento.

Mas entendia que meu melhor pedaço de doce ficava ali. Por muitos anos não consegui falar em você sem chorar. Sei que se você estivesse comigo o caminho teria sido mais confortável.

Naquele inicio de ano de setenta e dois, nos afastamos para nunca mais eu ver teu rosto. Não sei se, em algum momento, viste o meu.

Estou diferente agora. Perdi aquele sorriso, perdi parte do brilho dos olhos, mesmo achando que para o filho a mãe parte, mas não morre.

Assim a vida segue mãe. Todas as vezes que chamei teu nome foi por saudade, por ser um momento especial ou por acreditar que de alguma forma você me ouviria.

Nunca saberei se me ouviu. Ao menos deixe-me sonhar que sim.

*Mamãe faleceu em 03/01/1972. Completaria 52 anos em 01/03

Dayde W Nikolas
Enviado por Dayde W Nikolas em 28/07/2015
Código do texto: T5327106
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