Carta de desimportâncias

20 de julho, Cidade do Coração

Ao menino que estica minha poesia até encostar na dele...

grrrrrrou grou grou

grrrrrrou grou grou

Escuta daí o canto menino, emprestei de uma pomba para dividir contigo.

Como vão as coisas nesse mundo passarinheiro?

Tens ouvido muitos cantos? Cartografaste quantos deles nos últimos dias?

Faz frio nas madrugadas, tens levado agasalho nas tuas expedições?

Ah, menino! Escrevo-te porque não me aguento de saudade! E sempre conto quanto tempo falta para nosso próximo encontro. E o momento de horizontar poesia. Esticar, esticar, até perder de vista! Que poesia da gente, caminha meio junto, eu sinto! Tens lido bastante nosso Velhinho? Desaprendi mais dez coisas por esses dias! Tudo nas memórias de infância...

Um dia, quem sabe, menino, a gente ainda descobre um aceno, um sorriso manoelesco, d’alguma nuvem lá de cima. Não vamos disputar! Será para nós dois.

Sabe os três pés de ipês?... Aqueles que estão sonhados para o quintal lá de casa? Agora são quatro, viu! Ganhei mais um das tuas certezas bonitas. E tenho registrado mais pores do sol, porque sei bem, também tu, os ama. Dividiremos!

Nos próximos dias, vou me arriscar cartografar um rio, sabe?

Porque aprendi contigo, que os rios também cantam, e que chovem, por eles mesmos, nas margens... Queres ir comigo? De dia, caminharemos sem rumo... Clicando cada luxúria da natureza. Faremos um álbum erótico. Para nossos olhos gozarem poesia. Se a gente encontrar alguma cachoeira, pode-se até passar algumas horas debaixo... Purificando, limpando a sujeira da civilização, à espera do momento mágico em que caiam algumas palavras sobre nossas cabeças.

De noite, podemos contar estrelas, e discutir se elas piscam ou não, quando observadas de relance entre um balançar e outro das folhas de qualquer árvore que nos dê abrigo. E se vencermos nosso medo, podemos até explorar lugares a procura de cantos dos pássaros noturnos. Levarei um pacote de balas de coco e algumas pizzas. Qualquer coisa que falte, suprimos com poesia.

Vou ficando por aqui...

Escrevo-te da rede, por causa do balanço. Ele sempre há de lembrar que danças minha alma, danças meu ser, e horizontas as minhas bestagens.

Amo-te sempre!

Que amor de amigo é que eterniza o sempre...

Eva Vilma

Para Alan Silus, amigo de outros tempos, agora reconhecido