Tentei
Eu juro, por todas as minhas vidas, que eu tentei. Quis ser compreensiva, fazer-me insensível aos teus desmandos, desculpar tuas constantes falhas. Não consegui, porque em mim ainda há um orgulho de ser quem sou, independente, clara, coerente com aquilo que acredito. Eu tentei, tanto por mim, quanto por nós. Por ti, não, pois nunca soube quem, na realidade, és.
Pensei que o futuro nos pudesse reservar uma vida a dois, uma casinha simples, mas muito feliz, com filhos que viriam ou não, não importava. Seríamos nós, antes de tudo, nós, acima de tudo. Talvez seja sonho impossível querer prender um pássaro selvagem, que não sabe fazer outra coisa senão querer partir. Assim te vejo: inalcançável, pois mesmo deitado ao meu lado, nunca soube onde realmente estavas.
Hoje, espero o momento em que voltarás a mim, a nós, ao que começou, frente a frente com os erros, os acertos, as tristezas e as alegrias. Sei que esse momento irá chegar, logo ou daqui a muito tempo, nessa ou em outras vidas. Não importa, eu sei, sempre soube: voltarás.
Enquanto isso, ficarás em teu habitat, como flor nativa que não se deve tocar. Assim continuarás, se depender de mim, sendo de todas e de nenhuma. Sem conhecer a ti mesmo, sem conhecer a ninguém, a fundo.