Ao nosso fim - Parte I
Eu lembro exatamente como foi o dia que você chegou.
Sem jeito. Como se não quisesse nada. Do nada.
Sem pretensões foi, fincando seus pés, pouco a pouco em minha vida.
Fez companhia a minha solidão. Abraçou meus medos. Aquietou minha mente. Morou em minh'alma.
Eu já não sabia mais como me libertar. Eu não queria viver sem. E não vivi.
Fui tão você, vivi tanto em você, que esqueci de mim.
Já não me importava família, amigos, ninguém. Eu queria só você e eu.
Perdi a noção do mundo. Perdi a noção de tudo. Perdi a noção de mim.
E esse excesso de zelo foi te afetando, afastando.
Eu estava te perdendo dentro da imensidão daquela bolha protetora que eu jurara ser a melhor maneira de te manter sempre comigo.
Mas não mantive.
Eu não entendia. Jamais pude compreender.
Talvez todo o meu erro tenha sido te cuidar, te mimar, te amar, te sufocar com os meus sentimentos. E sufoquei.
Eu assisti a sua ida. Em silêncio. Em prantos contidos. Em um abismo de dor.
Você partiu.
E me partiu.
Despedaçou meticulosamente cada partícula que eu nem imaginara que esse coração tivesse.
E ainda disse que aqueles cacos de amor doentio deveriam ficar mesmo espalhados pelo chão.
Demarcando todo o caminho que você percorreu. Pois isso evitaria de você, por ventura voltar, e novamente pisar e se ferir nos estilhaços de mim.
E de repente tudo se tornou frio. Fiquei sem rumo. Sem estruturas.
Eu não cabia em mim. Acho que nunca coube.
Virei pó. Estou pó.
Desde a sua despedida sem direito sequer a um abraço, eu desconheço o que é um sorriso.
E não me reconheço.
Não tenho ideia se irei me reerguer.
Não tenho forças para seguir sem você.
Não dissimulei.
Nem te desesperei com o meu desengano.
Eu só me apunhalei.
Porque te amei.
E foi por amor que morri.
Morri em vida.
Morri por dentro.
Adeus.