Carta ao mundo
80 é a década em que nasci e o número que uso para quebrar o silêncio.
Se for para ser interpretado equivocadamente, como se fosse para ser “ou oito ou oitenta”, que seja 80 então, naquela sua linguagem matemática ou em qualquer outra.
Não importa a definição. Esse é um exercício limitante.
Eu sou infinito. Renunciei ao racionalismo que me foi apresentado como precioso, mas que ao cabo se mostrou insuficiente para perceber o mundo integralmente.
Impossível, porém, abrir mão das palavras, que apesar de serem restritivas se tornam necessárias, repousando o desafio sobre a articulação delas.
A libertação se inicia a partir do reconhecimento das próprias falhas e se concretiza quando se alcança a impecabilidade. É onde pretendo chegar.
Digo que errei quando deixei de perceber o amor e permiti que o EGOísmo crescesse num terreno sistematicamente moldado pelo medo de ser, de agir e de amar.
Fiquei parecido com você, justamente naquela que é a sua mais cruel característica.
Tudo está perdoado, porém.
Estive demasiadamente aterrorizado pela dimensão infinita do amor, que hoje eu sei, nunca acaba. Tive um medo paralisante de amar a todos e de amar demais alguém em específico.
Você, que tem medo das aves. Meu amor por você se converteu em tristeza quando fui fraco demais para efetivamente materializá-lo neste tempo.
Esse medo imbecil me levou a um autoexílio entre quatro paredes limitantes e distantes da minha natureza.
A cura veio do verdadeiro entendimento de que o amor é infinito.
O mesmo entendimento que dissipa todo o medo de amar.
Amar o mundo e tentar amar com muito mais força quando isso parecer impossível.
Esta é a minha religião.
Porque ninguém é mau, as pessoas ou se enganam ou estão em diferentes níveis de desorientação.
O amor não é fraqueza. É um bálsamo abstrato, cerne de tudo que é alegre. Ele traz o verdadeiro poder, porque leva à plenitude decorrente do entendimento de que nada está isolado no universo.
Porque tudo que não é felicidade não poderia ser outra coisa a não ser o próprio mal.
Se em algum momento cabe usar a palavra “nunca”, é agora.
Nunca aceitar nada que me (ou te) distancie do meu (ou do teu) direito sagrado à plenitude.
Só aí vale o oitenta.
São Carlos, dezessete de abril de dois mil e quinze.