REVIRANDO NOSSO RECANTO
Hoje eu me peguei revendo nossas coisas... as cartas... ah, as cartas! Mensagens escritas que carregavam a mesma força que as ditas olho no olho:
“A gente vai envelhecer junto, Celça!”
“Eu amo você, droguinha!”
“A vida é sua, mas você é minha!”
Eram exatamente assim, repetidas vezes, as declarações de amor:
“Se eu já não fosse apaixonado, ficaria agora. Você é exageradamente amável!”
Reli muita coisa. E sofri muitas vezes. E senti saudades. E lamentei. E fiquei confusa: como é possível um amor assim? Não, não é possível! Ele não existe!
“Eu te amo e vou cuidar de você!”
Ouvi uma música. E outra. Elas me fazem lembrar você cantando ao telefone pra mim. “A força do amor”, você dedicou a mim, lembra? “Espelhos D’água”, “Ainda bem”... nossa! Essa música era a “nossa” cara, parecia ter sido feita pra nós. Você entende isso? Até a trilha sonora do romance me convencia de que isso era amor e que, como tal, era verdadeiro.
E das promessas que me fez você se lembra? Falsas. Todas falsas! Fez nascer um amor concebido na mais absoluta ternura, para depois sepultá-lo friamente. Conheceu o que eu sou pela leitura que fez dos meus versos, nos quais conto os desencantos, e a partir deles alcançou meu perfil... o de uma criatura frágil, carente, vulnerável. Ficou curiosamente tentado a me conhecer, a desfrutar dessa mulher que só conhecia pelas letras. Deteve-se me estudando, eu sei. Analisou o que eu escrevia e pensou estrategicamente como me cercar e, o pior, como me deter.
Caí na sua. Como uma patinha maldita. Entreguei o pouco que restava de mim, o que não conseguiu decifrar das entrelinhas. Você é perfeito nessa “arte” que eu não sei se tem nome. Enfeitiçou-me com palavras:
“...Preciso sair agora. Beijo na bunda e em um palmo abaixo do umbigo”.
Você pode estar vivo em felicidade enquanto eu morro a cada dia neste mundo triste de desilusão, mas alguma coisa aí dentro vai incomodá-lo ao ler isso, Bruxo!