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Ps. Again. Sabe, eu até sei que você não lê as coisas que escrevo. Sabe, você não entra no meu Facebook, no meu Twitter e em nenhuma das minhas redes sociais. Até a minha janela do Whatsapp você não deve abrir mais. Já não tenho sua atenção em praticamente nada. E, àquele dia, quando eu te encontrei pela primeira vez, depois de tanto chorar por você, foi como a Clarice tanto me disse, redisse. Incitou. “Vou simplesmente te cumprimentar: olá homem mais comum do planeta!” Tem coisas que não são entendidas com palavras, apenas com gestos e atitudes. E foi nossos olhares que me afetou tanto, acredita? Nossos olhares! Ha! Já não me queixo mais, já não xingo e nem tento me colocar para baixo outra vez, não quero mais me transformar no errado da história. Pois, não há quem esteja certo, tampouco quem esteja errado. Só existe um eu e você, e nossas vontades. Tudo bem, esquece. Me deixa recuperar o foco. Assim, te vi. E eu sei muito bem que você me viu. No caso, mais de uma vez, porque senti você repousar seu olhar em mim. Venhamos e convenhamos, eu teria feito o mesmo no seu lugar, teria parado de conversar com uma moça de um certo carro, deixado uns certos amigos de lado e olharia para você, assim, sem querer, e deixaria que meus olhos controlassem as minhas vontades. E, no momento certo, quando você olhasse para trás, desviaria o olhar, porém abriria um sorriso, sabendo que o que você passou, já passei antes. E você vai aprender muito com isso, sabe. Não eu, continuarei a ser como sou, pois simplesmente não consigo ser alguém que não seja eu mesmo. Agora, sendo a mim mesmo, vamos trilhar meus passos. Vi você. Você olhou para trás, e do nada, como quem não entende uma piada mas ri do mesmo jeito, abri um sorriso acolhedor, de orelha a orelha, desses sinceros, que ri quando todo mundo ri junto, quando a alegria é compartilhada, quando é sentida de verdade, que esquenta o peito. Transborda o coração. Ah, Clarice! Agora eu te entendo. Não sorria por vê-lo, depois de tanto tempo. Foi um sorriso próprio, meu e meu, somente, você foi simplesmente um espectador daquele sorriso. Sabe, no teatro, quando o ator se posta à frente, pousa as mãos no ar e expressa-se, e sobra ao pública lhe entender. Sem palavras, sem ninguém dizendo o que está acontecendo: sobra apenas você, unicamente, e o ator. Uma expressão. Vários entendimentos. Todos, postos ao liquidificador. Sobra para você ligá-lo, clicar no botão onde marca suco de frutas, dentre outras bebidas adocicadas, quentes, frescas, alcoólicas. No nosso caso, talvez todas, com uma boa dose de tequila e duas de vodka. O que vai sair disso não sobra para mim responder, ou entender. Você que descubra qual o gosto. Estávamos na estação da cultura. Você, dançarino. Eu, projeto de ator. Um amor perdido. Um sentimento já sentido, já esquecido. Uma vela apagada. Fogo. Estava montada nossa peça, nosso pequeno palco, onde quem dança sou eu e você, com nossas culturas diferenciadas e atitudes distintas. Você deu uns três ou mais passos em minha direção, cada um leve, devagar, enquanto seu corpo postava-se ereto, com uma experiência que não me é igual ao dos outros. Um jeito próprio, com passos cuidadosos. Alguém que já dançou esta dança antes. Eu, desconfiado, dou alguns passos para trás, até então meio cambaleando. Sabe, esta dança não me é conhecida, e o palco se dissolve para mim tão fácil quanto o outono. Você, percebendo minha aflição, meus distanciar, alcança-me e segura minhas mãos. E seu toque foi tão acolhedor, que parei, esqueci até como se anda. Foi exatamente nesse momento o nosso abraço. Cada um olhando para diferentes olhares. No meu caso, meus olhos eram postos nas suas costas, nos seus ombros, seus cabelos, sabe, em você todo. Em tudo o que eu poderia olhar, guardar, sentir. Os seus não sei. Então, os aplausos. A dança havia chegado ao fim. Você me solta, me larga, e sai pela porta dos fundos, enquanto acredito ainda no palco, na dança. Chegara o fim do nosso espetáculo. Após nosso contato ocular, decidi dar alguns passos para trás. Exatamente, caro leitor. Alguns dos meus amigos decidiram ir beber água, fiz o mesmo. Quando voltei, você já estava em outro lugar, em pé, mais à frente, longe das visões, longe dos focos. Em mim. Rapidamente desço as escadas e, com passos largos, alcanço os outros. Após alguns ensaios, sinto sua presença novamente. Do outro lado da rua. Você. Uma amiga. Andando exatamente ao meu lado, separados por alguns quilômetros de asfalto. Depois lá.. e então se fora. E eu? Nada, não senti nada. Não sei se já me acostumei com a falta da sua presença, ou se tivesse me dado conta de que nunca tive, realmente, uma verdadeira presença sua. O que passou, já se fora, assim como você àquele dia. Vamos nos encontrar novamente, um outro lugar, uma outra rua.. você do outro lado, caminhando. E eu vou saber que já estou preparado. Não me importa as coisas que falaram sobre você, me importa apenas o que eu senti com o seu toque, o que suas palavras me disseram, o que o meu coração interpretou sobre sua imagem, ou a falta de interpretação da minha razão. Que bom! que bom! Vou continuar sendo sensorial, receptivo. Que ninguém me diga o que é ou não é, e que eu, por mim mesmo, saiba definir para mim o que quero e o que é melhor para que eu cresça como pessoa. Que você cresça, que você descubra. Ou que não descubra, que não entenda. Mas que sejamos felizes. Que você seja feliz. Que seja doce sua vida. Pois assim sou eu.

Leonardo Nascimento
Enviado por Leonardo Nascimento em 12/05/2015
Código do texto: T5239188
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