CARTA A ALGUNS AMIGOS

Belo Horizonte, maio de 2015.

Caros amigos, William, Paulo, Márcio, Teotônio, Mariângela e Maria ‘Oiguênia’:

Hoje tirei um tempinho para escrever-lhes. Meu desejo é colocar no papel, ou na “telinha”, melhor dizendo, algumas lembranças, por ocasião de nossa passagem pela saudosa Faculdade de Letras da UFMG. Na verdade, o objetivo principal é registrar aqui como se iniciou a nossa amizade, muito pura e sincera, que guardarei em meu coração até o dia de minha mudança definitiva para outro plano de vida.

Vou tentar ser agradável, sem ser pernóstico. Peço a sua paciência. Quem sabe vão gostar da missiva?

Saibam, caros irmãozinhos, que tive o privilégio de conquistá-los. Para mim, vocês sempre foram pessoas especiais, simples e humildes. Depois de muito sacrifício, esforço e coragem, chegaram a posições importantes, no “cenário nacional”. Boa essa! Não é verdade?

Acho que vou começar dirigindo-me ao ‘Capitão’ William Jaques Pereira Santiago, de Pitangui-MG. Formado em Letras, no curso de Português, diplomou-se, também, em Jornalismo. Abandonou o país, após ser aprovado em concurso público no Itamaraty, indo labutar em terras distantes, em embaixadas brasileiras, ou em consulados, como: Arábia Saudita, Dinamarca, Paraguai, etc. etc. Cônsul do Brasil no Paraguai, com destaque especial. Lembra-se, professor, quando, em 2009, estive em sua casa na cidade de Encarnación? Você, William, foi e é uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Com sua simplicidade, alegria e despojamento, acabou por se tornar meu grande companheiro das piadas. Sempre que nos encontramos, você sabe bem disse, temos uma piada para contar. Umas velhas, outras novas. Lembra-se de que quase matamos nossas colegas da faculdade de tanto rir?

Não poderia deixar de registrar aqui aquele acontecimento pitoresco ocorrido em 1969, na sala de aula de nossa escola. Faz referência a você, meu ilustre companheiro, professor e alto funcionário da diplomacia brasileira, William Santiago. Eis que o amigo, chegando um pouco atrasado para uma das aulas, escutou do remetente dessa missiva a seguinte frase: “Chegou o voador”. Não houve nenhuma manifestação por parte do ilustre pitanguiense. Foi você mesmo que me reportou o fato, anos depois, quando já havíamos selado uma forte amizade, dizendo-me o “ilustre voador” que ficara simplesmente “pê da vida”, já que o capitalista, aqui seu grande amigo, simplesmente fizera pouco caso dele. O interiorano, já um pouco “cabreiro” e talvez sem lugar, quem sabe até meio complexado, na Escola que parecia haver somente pessoas da elite, ser taxado de voador, fora realmente uma ofensa.

Professor Santiago, que bom recordar esse fato que acaba por renovar nossas velhas e gostosas e gargalhadas!

Agora, dirijo-me a outro amigo do peito, também de Pitangui, você, grande Paulo Wangner de Miranda. Diplomar-se em dois cursos superiores, o de alemão e de Geografia, não é para qualquer um. Tornando-se um diplomata de gabarito, como me orgulho de ser amigo de uma pessoa tão ilustre! Ocupar o cargo de embaixador do Brasil, em Granada, na América Central... É, Paulo, a turma de Pitangui não decepciona mesmo.

Companheiros, quero enfatizar que a ordem de colocação dos amigos, nesta missiva, não significa preferência por um ou por outro. Apenas, mera casualidade.

Agora vou me dirigir ao grande amigo daqui de Belo Horizonte, o professor Márcio Amorim. Homem de muita simplicidade, você conseguiu, com sua inteligência e dedicação, trabalhando, durante alguns anos na sofrida profissão de mestre, conquistar seu espaço. Depois de ocupar um simples “apê”, à beira do córrego da avenida Atlântica, no bairro Alípio de Melo, por sinal, não muito cheiroso, hoje se destaca como um dos mais bem afortunados cidadãos de Belo Horizonte, ao lado de sua ilustríssima ‘dona’, a Dora, que também se diplomou nas letras da Língua Portuguesa, como nós assim também o fizemos.

Agora é você, professor Teotônio Marques Filho, baiano de Tanque Novo! Como foi proveitoso o nosso Curso Clássico, realizado no Colégio Municipal de Belo Horizonte! Companheiro de uma inteligência invejável, amigo sincero e verdadeiro, como me ajudou a romper no curso de Português, na Faculdade de Letras! Eu, como muitos dos companheiros das ‘letras’, não nos esquecemos de sua prestimosa ajuda, com aulas complementares e esclarecedoras do latim e do grego. Sem dizer de outras disciplinas... Ah, se não fosse sua ajuda! E os trabalhos que o amigo publicou? A análise de dezenas de obras literárias, transformadas em preciosos instrumentos para que muitos candidatos pudessem chegar às diversas universidades. Foi um trabalho árduo e meticuloso, sei muito bem disso, companheiro. Quero dizer, meu caro professor Teó, que tenho uma profunda gratidão por tudo que fez por mim e por manter-me por perto, desfrutando sua pura amizade. Continuará presente em meu coração, para sempre.

Agora é a sua vez, querida professora Mariângela Furtado, de modo especial, ratifico aqui a nossa verdadeira amizade. Como foi gratificante tê-la como principal colaboradora e ouvinte assídua das piadas, às vezes, tão sem graça, que ficavam engraçadas, deste que lhe escreve, bem como do professor William Santiago, companheiro dos gracejos mais criativos e cômicos. Como foi bom fazê-la rir tanto que até precisava ir à “casinha”... sem contar que até chorava de tanto rir.

Sua história de vida ficou notadamente marcada não somente para seus amigos, como também para o Brasil inteiro, quando contraiu núpcias, em 1973, um ano após a formatura na Faculdade de Letras, com o famoso alemão que conquistou no Festival de Inverno, em Ouro Preto. O grande músico do Quinteto de Munique, que soprava com esmero o seu instrumento sofisticado, o oboé, que pouca gente conhece, conquistou seu coração, mesmo sem falar um ‘a’ da língua portuguesa e você sem falar um ‘b’ da língua germânica. Lembra-se de que lhe perguntei se o oboé do Manfred era grande? Ih? Ficamos orgulhosos quando a mídia inteira publicou seu casório. Até hoje guardo junto a meus alfarrábios o exemplar do então jornal Diário da Tarde, onde está estampada uma foto do casal e uma frase: “O amor fala todas as línguas”.

Deixei você, Maria Eugênia, por último, já que “ist in Argentinien”. Não, você não está na Argentina, embora de lá goste muito, está em meu coração de irmão, como de toda essa turma a qual estou dirigindo através dessa missiva. Estou até meio preocupado... Será que não está muito cafona? Azar, se estiver “cafona”, ou “bocomoco” . O professor William Santiago me disse que escrever faz bem para a mente e ajuda a driblar a ociosidade. Por isso me atrevi a escrever. E por que não para meus amigos da Faculdade de Letras?

Saiba, irmãzinha, que não é por acaso que as coisas acontecem em nossas vidas. O nosso grupo da FALE se estruturou de uma forma muito harmônica e espetacular, haja vista que não perdemos o contato e estamos sempre juntos, mantendo nosso “tête-à-tête”. Que bom!

Agradecendo a sua paciência, finalizo esta missiva, deixando meu abraço afetuoso para todos vocês.

LUIZ GONZAGA

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 08/05/2015
Reeditado em 07/02/2017
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