Eternos
Eu o havia idealizado.
E cada vez que pensava sobre isso
Remontava a inda vinda dos nossos passos .
Desesperava por que nunca haveria alguém igual .
Alguém que me olhasse de fato nos olhos e falasse de forma tão aberta.
Tão sem pudores mesquinhos.
Ele nunca possuía pudores de qualquer espécie.
E de fato , melancolicamente desesperei.
Passei muitas noites no piso frio
Com cigarros que escondia de mim mesma
Relembrando detalhes que pareciam fugir da minha cabeça .
E esse talvez seja o grande segredo:
As palavras sempre me lembram do que eu vou esquecer.
E nossa coisa , lance , história , caso , lapso de tempo , rapto de horas
não poderia ficar à mercê dessa memória de merda que me afeta , ou inspira.
Eu silenciosamente lhe vigiei os passos , os sorrisos e alegrias .
Desejava secretamente sua felicidade sem fim.
Não podia desejar diferente , jamais poderia...
" Mas tu Choraste como um bebê, copiosamente , dolorosamente Vhydengard !! , deveria desejar-lhe os infortúnios" diziam -me todos .
Nunca pude , nem nunca poderei
Somos partes soltas no mundo , uma a parte do outro .
E por isso , primeiro apaguei as fotos.
Fotos que olhei uma a uma , maltratando meu coração com as lembranças risonhas do verão
E em seguida , pesarosamente e quase querendo me conter , arranquei as folhas que escrevi , os poemas que nunca serão nem meus , nem dele , nem de ninguém , para que leiam nossos momentos , pensamentos , conversas , esperanças , juras de amor , nossos planos ...
Rasguei , amassei , depois beijei cada um e amarrei três vezes para colocar no lixo ... mas ainda tive pena e fiquei com a sacola de tristeza durante uma semana antes da coragem acometer-se sobre mim por causa de meia garrafa de tinto .
Na minha vida ainda perseguiam-me os modos , os sorrisos transloucados , o jeitinho meigo de me fazer carinho com aquelas mãos pesadas que tanto amei e que tanto idolatrava , o olhar ao encarar um morador de rua , uma pintura ou uma flor morta ,
Aquelas observâncias sábias sobre as pessoas , sua humildade camuflada de ego , sua tristeza fantasiada de aceitação , seu medo rebuscado de coragem , e nas prateleiras seus livros a conversar comigo a me pedir mais da vida , mais amor , mais de tudo que eu pudesse oferecer...
Foi difícil isso de ir embora ...
Isso de não saber qual seria a opinião dele sobre o que escrevi
Isso de ficar sozinha numa cozinha gelada com meus pensamentos de asas
Isso de não mais completar os pensamentos de uma outra pessoa .
Foi difícil não ser pra ninguém como unicamente fui pra ele.
Mas sobrevivi então
Lógico não morreria , era só o amor verdadeiro que estava indo embora nada de mais.
Era só aquela pessoa cujo os ombros se parecem com a minha casa .
Era só isso , não era nada , nada de mais.
Até ter a coragem e ter a audácia de poder rever-lhe
Os mesmos olhos tristes e mãos cansadas
Os mesmo cigarros nervosos e sorrisos loucos
As mesmas pupilas pousadas nas minhas a investigar cada canto da minha alma
E então percebi a eternidade do cataclisma que causamos
Percebi que nem em um milhão de anos estaremos a parte do que somos .
Percebi que escolhemos por que somos racionais
E sendo irracionais seríamos mais estúpidos , vazios e imensamente felizes.
Notei dessa forma , que não exista o que façamos ,
Não exista nada que façam de nós
Que possa separar aquele abraço dado.
Aquele abraço de quando fui capturada docemente de uma vida sem sentido , gélida e de hora marcada .
Não importa o que eu fizesse ou que fizessem de mim , nós já éramos eternos antes desse mundo e de seus percalços pequenos .
Somos eternos em tudo quanto finda
E ponto final.