Roberto, meu amor,
foi bom demais ontem à noite, apenas fiquei um pouco preocupada com a nossa incapacidade de cumprir o tempo determinado, na próxima vez faremos esforço. Também preciso cuidar, Roberto, para que meu cotidiano não se desorganize, por amor, esse sentimento deve servir para nos aperfeiçoar, o amor só faz sentido quando é para o bem dos enamorados, para seu crescimento, sua busca de, não perfeição, mas excelência. Preciso ser atenta e serena, amar simplesmente. E não fazer mal a ninguém. Veja como crio regras para mim, meu Deus. Preciso aprender a conviver com esse momento, Roberto, o amor, que me deixa com o coração pulsando, e sem vontade de fazer nada a não ser escrever para você, olhar as suas fotos, deitar no sofá com um livro aberto e ler nas páginas as nossas lembranças. Ao mesmo tempo, é maravilhoso estar nesse estado de espírito, receber este presente da vida, que foi encontrar você, e ser encontrada por você. As fotos registram essa nossa perfeita afinidade, essa combinação espiritual e física que me parece mais antiga do que nós, do que nossos avós. Quando se abriu a porta daquele elevador, quase corremos para os braços do outro, os dois famintos, os dois flagelados, os dois pedaços de um ser que viveram afastados e finalmente se encontram. Homem e mulher. Bendita seja aquela foto no jornal, que teve o poder de nos unir para sempre, mesmo que jamais tenhamos uma vida em comum. Fiquei impressionada com a sua frase. Nunca fui feliz, e demorei a dormir pensando nisso, porque creio que também nunca fui realmente feliz nas relações amorosas, tive uma vida em comum com pessoas de quem gostei, de quem fui amiga ou companheira, e amei a quem nunca pôde ter comigo uma vida em comum, espero que essa não seja a minha triste sina. Um amigo meu diz que a convivência sufoca o amor, mas não creio que seja verdade, não creio. Não pode ser verdade. Percebo que você tem muito a me ensinar, vejo seu modo maduro, intenso, vejo em sua pureza de alma, vejo que já estou me transformando, por influência de sua proximidade, e atevejo o que poderei ser, ao seu lado. E acredito que também eu possa lhe oferecer algo, talvez eu tenha a lhe dar, além de amor, um mundo que você ama, ao qual pertence, mas que ficou esquecido de certa forma, dentro de você, adormecido. Um mundo ligado à poesia, aos livros, às descobertas, à grandes navegações interiores.
Ao reler o que escrevi acima, percebo a minha expectativa, e me recordo da frase no sofá azul. Sempre respeitarei você, e respeitarei a mim mesma e a todos os envolvidos nessa situação que Deus criou e à qual quase apenas assistmos, compassivos e impotentes. É a nossa natureza. Não creio que o sentimento justifique certos atos, certas escolhas, mas saberemos ser honestos e dignos, porque somos somos honestos e dignos. A música do seu conterrâneo diz, Sim, todo amor é sagrado. E o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor, Roberto, Roberto, Roberto em cada passo. Ouvi a gravação do começo de nossa conversa, achei sua voz sensível, e minha voz pueril, dengosa, tive um pouco de pudor dessa minha fraqueza de estar amando, carente, necessitada de você, de sua voz, de sua presença, embaraçada como uma adolescente. Gostei de irmos a Carmo do Rio Claro, que nome lindo, parecido com você, uma vez escrevi num livro, acho que foi A última quimera, sobre Augusto dos Anjos, que se ele tivesse ido para Alegrete, onde pretendia ir, e não a Leopoldina, nome dado em homenagem à infelicíssima princesa, ela teria tido outro destino, um destino alegre. Mas, meu, que nasci em Fortaleza, tenho ao mesmo tempo forças e fraquezas. Sinto forças, agora, para lutar por você, mesmo que ainda não nos conheçamos bem, mas a minha leitura profunda de você, a minha intuição vetiginosa, os meus sonhos, tudo me faz certa de que é você que eu quero, dentre todos os homens deste mundo. Num livro do Saramago, que acabo de ler, A caverna, ele escreveu que o vencedor é aquele que sabe o que quer. Claro, não acredito em vencedores, ou perdedores, todos nós perdemos quando vencemos, e vencemos quando perdemos, mas essa frase me veio à mente, porque sei o que quero, e nada me distrai.
A nossa sinceridade é um código de honra. Então, devo falar algo que não falei ontem. Quando conversei com a minha irmã, contei a ela, com eufemismos, a sua situação. Ela ficou muito preocupada. Ela teve uma experiência dolorosa com um homem que tinha uma situação semelhante, e quer cuidar de mim como a uma filha querida e inexperiente.
Não recebi suas mensagens, veja, meu amor, o que está acontecendo. Acabo de apagar o último cigarro de palha, que o nosso amor me ajude a ter forças para nunca mais fumar, uma das provas mais difíceis de minha vida.
Agora volto ao trabalho.
Amo você, Roberto, amo, amo Sua,
Ao reler o que escrevi acima, percebo a minha expectativa, e me recordo da frase no sofá azul. Sempre respeitarei você, e respeitarei a mim mesma e a todos os envolvidos nessa situação que Deus criou e à qual quase apenas assistmos, compassivos e impotentes. É a nossa natureza. Não creio que o sentimento justifique certos atos, certas escolhas, mas saberemos ser honestos e dignos, porque somos somos honestos e dignos. A música do seu conterrâneo diz, Sim, todo amor é sagrado. E o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor, Roberto, Roberto, Roberto em cada passo. Ouvi a gravação do começo de nossa conversa, achei sua voz sensível, e minha voz pueril, dengosa, tive um pouco de pudor dessa minha fraqueza de estar amando, carente, necessitada de você, de sua voz, de sua presença, embaraçada como uma adolescente. Gostei de irmos a Carmo do Rio Claro, que nome lindo, parecido com você, uma vez escrevi num livro, acho que foi A última quimera, sobre Augusto dos Anjos, que se ele tivesse ido para Alegrete, onde pretendia ir, e não a Leopoldina, nome dado em homenagem à infelicíssima princesa, ela teria tido outro destino, um destino alegre. Mas, meu, que nasci em Fortaleza, tenho ao mesmo tempo forças e fraquezas. Sinto forças, agora, para lutar por você, mesmo que ainda não nos conheçamos bem, mas a minha leitura profunda de você, a minha intuição vetiginosa, os meus sonhos, tudo me faz certa de que é você que eu quero, dentre todos os homens deste mundo. Num livro do Saramago, que acabo de ler, A caverna, ele escreveu que o vencedor é aquele que sabe o que quer. Claro, não acredito em vencedores, ou perdedores, todos nós perdemos quando vencemos, e vencemos quando perdemos, mas essa frase me veio à mente, porque sei o que quero, e nada me distrai.
A nossa sinceridade é um código de honra. Então, devo falar algo que não falei ontem. Quando conversei com a minha irmã, contei a ela, com eufemismos, a sua situação. Ela ficou muito preocupada. Ela teve uma experiência dolorosa com um homem que tinha uma situação semelhante, e quer cuidar de mim como a uma filha querida e inexperiente.
Não recebi suas mensagens, veja, meu amor, o que está acontecendo. Acabo de apagar o último cigarro de palha, que o nosso amor me ajude a ter forças para nunca mais fumar, uma das provas mais difíceis de minha vida.
Agora volto ao trabalho.
Amo você, Roberto, amo, amo Sua,
Ana Miranda
(28/8/2003)