O CRISTO DE TODOS OS DIAS

"Oi companheiro. Tudo bom?

Você com sua imaginação, com o seu perfil...

Tudo bem...

Deus é grande, mas você... é imenso.

Um abraço do GIOVANI BALAU”.

In Orkut, 10/062007, 12h40min.

Grato por tua espontaneidade e elogios. No entanto, peço escusas e pondero com o carinho de sempre. Cuidado com o que dizes sobre a minha obra.

Ela é fruto de generosos danos e perdas. Algumas alegrias comparecem nos meus neurônios tão massacrados pela realidade que vejo de todos os lados: corrupção, injustiças, pobreza, fome, invejas de todos os calibres. A vida valendo nada.

Tudo o que faço é um canto de amor ao irmão. Pobre de mim que sou apenas um condenado a pensar e a dizer o que sinto e vejo.

Deus é o bafejo que me anima. Assim como a emoção é o meu cadinho de ansiedade e de consciência, o exercício do amar o próximo é a voz Dele, não a minha. Assim, creio, nasce a minha poesia.

Ele, o Pai amantíssimo, é invisível e impalpável. Não é um bichinho de pelúcia que se afofa junto ao coração e ao rosto desde a infância. Ele, por vezes é miragem, um vulto indefinido no meio do deserto. Mas é possível senti-lo quando a humanidade sofre e não pragueja.

Dobrados os joelhos e de mãos postas, o homem é figura formosa. Rememora a humildade, essa criatura tão pouco havida no coração do homem comum.

Já viste um cego pedindo ajuda, mão estendida, mas com um sorriso nos lábios? É ali que o Altíssimo está presente, no coração condoído de quem transmite a sua fala mansa e avexada pelo trauma de ter de pedir um naco de sobrevivência.

E são poucos os martírios que teve o filho de Deus? Seria por ele ou por nós? É crístico querer agradecer à vida por nos obsequiar com os fraternos que realmente praticam a fraternidade como uma das verdades.

Mergulhar-se, imergir-se nos afetos e nos amores são lições que nos passam os dias. O Nada é imenso, nós é que somos tão pequenos: granículos na grande praia do mar revolto do viver.

Quando falas e emites o amor pelos teus fraternos é o Cristo que fala por tua boca. Mas não confundas, não troques alhos por bugalhos, peço-te, exercitando a humildade.

Deus é a ponte que nos leva a pensar sobre isto tudo. Essência. Energia original para o enfrentamento do tempo de passagem. Ele é navegante por todo o Universo.

Navegou antes para balizar o caminho. A nós resta seguir as pegadas e acreditar que ele também pode ser um ursinho de pelúcia. O calor e o afeto provêm deste milagre que os fetiches trazem.

O original estará contigo por todo o sempre. Nesta e na outra margem, mesmo que não o vejas. O amigo é um vulto no existir deste plano terreno. É certo que navegará também, antes ou depois de ti.

Olha o horizonte, tudo está tão distante! Mas no milagre da bênção de luz o sol nasce todos os dias.

– Do livro CONFESSIONÁRIO - Diálogos entre a Prosa e Poesia, 2006 / 2007.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/521096