HISTÓRIA DE SONHOS E SOFRIMENTOS

Viajei por muitos lugares. Perdi-me em cada um deles. Nunca consegui dimensionar o que realmente seria a vida. A minha vida e principalmente a vida das outras pessoas que também respiram à minha volta. Simplesmente via meus problemas maiores do que os problemas dos outros. Não existe nenhum ser humano, que não sofra, e pena em suas angustias particulares.

A miséria destrói a alma do homem e da mulher, e dizem ainda que ela faz com que a humanidade deixe de existir dentro do ser humano. Percebi na última semana do mês de agosto do ano de 2008, que mesmo existindo sofrimento e dor que vai da carne até a alma do ser, ainda assim existe esperança, afeto, fé, compaixão, amizade, respeito e paciência dentro de muitas pessoas que sofrem e ás vezes se desesperam. Não sou o único a sofrer, e percebo agora que o que em minha existência é motivo de descontentamento e desânimo, em muitas pessoas é o sonho de toda uma vida de luta e derrota, mas nunca de desistência.

Tenho admirado as pessoas e a vida, há sim algo de belo a ser percebido em minhas ações e em minhas conquistas. Tenho (ainda com dúvidas) percebido que minhas conquistas estão coroadas de glória. A minha ânsia por sucesso escureceu a minha visão por muito tempo. Espero que a estupidez jamais volte a ser minha parceira.

Observei em um dos mais conhecidos rincões do Brasil, a Rodovia Transamazônica, que o Estado e todos os benefícios que por direito devem advir do mesmo, estão presentes apenas na esperança daquele povo. A esperança torna-se naquele lugar e em muitos outros, maior do que a realidade. Simples assim! Tenho sido tolo por toda a minha vida, construí uma redoma a minha volta, e tentei equalizar a realidade, em torno apenas dos meus anseios. A realidade é muito maior do que vontades individuais. Não sou mais cego para não perceber isso. Crianças que nem sonham já sofrem, e como sofrem. Velhos que além de já se acharem imprestáveis ainda são massacrados em sua dignidade e em seus direitos. Mulheres que se tornaram mulheres, pelas circunstâncias, arrastadas para a vida adulta por convenções ou pela falta delas. Homens que mesmo embrutecidos ainda sonham e sofrem. Esta é a radiografia dos que sonham e sofrem. Sofrem, sofrem muito, mas sonham e como seus sonhos são grandiosos. Por isso, alegra-me que eu esteja na categoria dos que sonham, mas dos que sonham e pouco sofrem!

Tenho certeza de muitas coisas, só que ultimamente tenho percebido que nem sempre nossas certezas podem ser rotuladas como verdades. Por algum tempo pensei que ambas fossem sinônimas uma da outra. Só mais um engano. A verdade é (talvez não seja uma certeza) que a nossa existência é enxuta de certezas e transborda de incertezas, cada vez mais profundas e desafiadoras. Por um instante penso agora que talvez a maior das certezas, possa ser aquela que nos martela na alma: nunca viveremos sem as incertezas.

O que sei é que de agora em diante devo e posso, por uma questão de preservação de meu espírito construtivo, viver compassadamente. Não em apenas parar e ver a vida passar, mas de passar pela vida e aproveitar cada instante que ela possa nos proporcionar. Viver os momentos continuamente, mesmo que os mesmos estejam fragmentados.

Sempre perdemos muito tempo com suposições e devaneios, prevendo e calculando o futuro. O sucesso está naquele que consegue fazer tudo isso e ainda viver o presente, pois o presente é o que temos no momento. E esse presente é a única certeza verdadeira que podemos ter acesso sem muito esforço.

Pode até ser que tudo isso seja só devaneios. Contudo, olhando a existência dessa maneira, percebo que tenho vivido hoje, um pouco melhor do que vivi ontem. E essa, com absoluta certeza, tem se confirmado como uma verdade a cada novo dia.