A PROFUNDA RAIZ

(para o Jorge Aquiles)

Percebo que tu és dotado de imensa inquietação e de uma sensibilidade à flor da pele, o que faz com que os comentários no Facebook e as tuas criações pejadas de Poesia – quando chegas até ela – são o mais puro derramar de teu rico íntimo, especialmente quando te debruças sobre a figura de tua mãe poetisa, amiga de meu andar no mundo há mais de três décadas.

Conhecia de longa data a aflorada emoção, tanto na política como nos teus mais íntimos afetos. Antes te percebia menos permissivo à palavra escrita. Agora, cinquentão, te sinto guiado pela compulsão no ato de escrever o que te ocupa a razão e o espiritual. Acho que te habita um inconteste talento para a criação do poema com Poesia. Acredito em teus propósitos. Um pouco de esmero e cuidado fará muito bem ao teu legado. E os leitores agradecerão. Pelo que vejo, tu possuis esta condenação ao sentir e ao pensar. Agora, pelo que vejo, em tuas cotidianas incursões ao mar de Canoa Quebrada és um quase-peixe.

Não me surpreenderia se, não mais que de repente, aparecesses por aqui em Pasargada, neste Passo de Torres, quase no sul do mundo, em meio a um bando de golfinhos marinhos, fazendo algaravias e subindo o rio Mampituba.

Cuida de tua cabeça, que sempre foi dona do mundo. Ninguém escreve sem a vontade de vir a ser lido. Escrever é um ato de profunda raiz psicológica. Esse lúdico sentimento é que move o nosso estar no mundo. Se a felicidade para mim está entranhada nos caracóis de larvas, canteiros, flores e pássaros, em ti ela está nos elementos ar e água.

Aqui, nesta nesga de terra entre o mar salgado e a doce água, onde me escondo do que me mofina na cidade grande, um afoito e ágil bem-te-vi emite o seu canto estridente. E acalma o meu coração em voo de saudade.

MONCKS, Joaquim. A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2014. Revisado.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/5206466