Algo sobre a humanidade ou sobre mim. Não sei dizer.

Caro Leitor

Escrevi esta carta à meu professor, e sim esta diz mais desta que vos escreve do que da própria matéria em si. Esta é uma das poucas vezes que esta escritora fala de seu interior então espero que aprecie.

Dana Reinoso

Tentei varias vezes e de diversas formas responder as perguntas. Li e revirei os textos tentando achar um sentido que não levasse ao meu pessoal. Desisti. Neste momento então fui caminhar na praia e relaxar meus neurônios que tanto trabalhavam.

Observei o mar, que ia e vinha levando e trazendo suas conchinhas num fundamental e sincronizado ciclo. Foi neste instante que me veio uma questão: Porque o ser humano é o único animal sem ciclo definido? Tentei de varias formas responder essa duvida, ora as ostras e mariscos maturam, abrem-se e perdem suas conchas reproduzem e morrem; os gatos e cães crescem, caçam, reproduzem e morrem; mas e o ser humano? Uns ditam para si o ciclo do crescer, trabalhar, ter família e morrer; outros somente crescem e morrem; outros sequer chegam a crescer morrendo e se suicidando ainda jovens.

Ah meu caro, pensei comigo tantas coisas. A mais plausível que pensei foi que talvez a consciência biológica foi substituída pela consciência emocional, deixando em nós uma brecha, quase um vácuo, que tentamos a todo instante suprir, mas que acabamos só encaixando com o imaginário. Talvez disso a religião tenha surgido, na tentativa de preencher esse vazio que nos foi tirado pela consciência emocional, tentamos colocar a culpa e nossa razão de sentido em algo no imaginário (que não vemos, entendemos e vivemos). Precisávamos de algo concreto, mas não tinha isso em nossa realidade então criamos algo dogmático.

Mas então prezado, com o tempo assim como aquelas conchinhas no mar se desgastavam com o bater das ondas, a nossa conformidade com a religião se foi e precisávamos questionar qual o nosso real sentido. Vendo o homem que era inacabado por não ter um porquê de sua existência passou a fazer uma frenética busca, e buscar nas coisas o seu sentido. Não conseguindo encontrar seu sentido alguns atrelaram seus horizontes às coisas materiais que conquistaram, outros resolveram acabar consigo mesmo entregando-se ao suicídio. Mas essa busca não foi totalmente em vão, afinal alguns resolveram achar seu sentido no universo criando assim a ciência, mas a ciência por sua exatidão não deu ao homem um sentido. Assim foi o homem crescendo, vendo coisas, experimentando e nessa evolução viu que o homem maduro tinha experiência e o sábio aprendia com o maduro e se aprimorava e o conhecimento foi sendo passado adiante. E vivendo juntos percebeu que precisava de mais que isso, se tornaram capaz de mudar o mundo e vendo que não era suficiente mudaram a si mesmo e deixaram de querer ser o que são para ser o que todos achavam que era bom. E diferente das conchas na praia que são lindas por serem umas diferentes das outras, se tornaram iguais e passaram a odiar o diferente. E assim como na sociedade das rãs quem era diferente passou a ser caçado e separado. Então o homem passou a se reprimir e a viver como os outros mandavam, e só viver o que realmente são no imaginário, passaram a viver sonhando e a sobreviver no mundo real. Mas perceba que essa falta de si mesmo no real deixou o homem mais maquina e mais dado aos sentimentos ruins como a tristeza.

Continuei andando pela praia, ela estava linda perfeita, mas assim como muitas coisas na vida me deparei com uma cena que manchou a perfeição do cenário. Me entristeci meu caro, mas observei. Era um pássaro pequeno e morto, tentei ver por um outro lado. Porque os assuntos como a morte, a dor e o sofrimento são tão evitados. Observando a ave atentamente encontrei uma resposta nas formigas que o cercava. A nós cabe a um morrer para o outro viver, mas nunca queremos ser o morto, Porque? Porque vivemos como maquinas, dominados pelo senhor rotina. Assim o homem foi perdendo a sensibilidade e o seu eu emocional para ser mais um na colônia, se entregando à passividade. O homem se deixa, deixa seu querer e agir pelo bem comum.

Ó querido, basta a mim dizer que só nos tornamos diferentes das formigas somente quando olhamos para o próximo. E o amamos, e somos amados e o cativamos. Mas para termos isso tudo é necessário investir tempo. Veja bem, não se pode ter algo sem pagar o preço por ele. E essa coisa toda nos acrescenta algum motivo para viver. O engraçado meu caro, é que só aprendemos a viver quando aprendemos a morrer. Sim, morrer! Porque a cada instante estamos morrendo e cada vez que nos damos a alguém nos matamos aos poucos. Mas morrer neste sentido é bom. Mas para se dar algo é preciso tê-lo e sê-lo. Então o sentido da vida passou a ser mais que o homem e se tornou um universo. Uma conexão universal, matéria com matéria. E não é só isso, uma relação de dentro do homem com o fora dele. Assim as emoções transparecendo na pele. É como uma criança que sorri para a mãe e ela sorri de volta, ora a criança sentir, refletiu e contagiou. Percebe como foi necessário o outro existir para as emoções voltarem ao foco? Foi como uma flor que caiu suas pétalas e depois sua prole se fez nascer.

E assim nessa nesta loucura de sentimentos veio a tristeza que nos torna mais fortes ou mais vulneráveis, e quando nos chega toma um pedaço de nós e por isso se torna importante. Entenda que não se pode haver plena alegria sem desfrutar da plena tristeza, é como dar jiló a uma criança dizendo que é ruim, ela só vai saber se gosta ou não se experimentar.

E desta forma meu caro, observo que a felicidade se atem mais às pequenas coisas atividades da vida do que as conquistas maiores. Porque sei que somos pequenos, tão pequenos quanto os segredos da vida.

Então voltei naquela praia pra mim, e aí meu amigo que pensei bem sobre quem sou eu. Mas vi que além deste corpo sou o sorriso que tirei nos lábios alheios, sou o beijo que me beijou de volta, sou a lagrima que chorou ao ouvir uma canção que compus, sou o suor que desceu quando recebia uma ajuda minha, sou o gemido que ouvi na hora de fazer amor. Sou isso tudo e um pouco menos. E sei que não preciso de nada grandioso para saber que minha felicidade está onde a gente menos procura.

Obrigado meu amigo.