O Desabafo

Nas margens caladas do Jordão, Judas costumava sentar numa pedra para  meditar sobre seus atos de outrora.Escolhia os dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor.
Aquela figura de homem triste se transportando ao passado distante, desabafa descrevendo alguns momentos de sua trajetória onde entregou o Mestre aos algozes. Não julgou que as coisas atingissem um fim tão lamentável. Cheio de remorsos, presumiu que o suicídio era a única maneira de se redimir.
Hoje recapitulando os fatos como se passaram... Eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar. O Mestre com suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado.  Vejo-O ainda na Cruz entregando a Deus o seu destino. Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram  e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe. Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor. Olho com complacência os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra. Sobre o meu nome pesa a maldição milenária. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores.
Quanto ao Divino Mestre, infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços em todos os padrões do ouro amoedado.
E os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-LO.
Baseado no texto: Judas Iscariote- Livro: Crônicas de Além Túmulo
(Francisco Cândido Xavier)
 
Élia Couto Macêdo
Enviado por Élia Couto Macêdo em 02/04/2015
Reeditado em 04/04/2015
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