Ao réu do meu juízo
Para poupar palavras prefiro tocar diretamente no ponto.
E sendo sincera não sei por onde começar. Talvez por que a saudade ainda me leve a loucura. Talvez por que eu ainda pense em você antes de dormir, talvez por que você seja a primeira e a última letra de cada verso meu.
Entre tantos casos de amor, entre tantas tragédias eu tinha que me meter em um drama!
Não, eu não te culpo. Afinal eu fui insistente o tempo todo. Persisti e lutei até você desistir de fato. E doeu. Doeu quase tanto dói quando erram meu nome, quase tanto dói quando as palavras se vão e morre o poeta... Doeu como uma adaga em meu peito, não fez sentido mas doeu. Doeu de tal forma que me droguei. Fui de Dostoiévski a baixo. E numa crise de overdose vim parar aqui, debruçada sobre uma folha em branco, recebendo diariamente doses de "vai passar" na veia e em comprimido. O comprimido é o pior, me fazem engolir como se fosse a única verdade. Mas eu não quero que o "vai passar" faça efeito, talvez por isso em alguns casos eu o finja engolir e cuspa discretamente no vaso o restou da dose dentro da boca, e a essa hora já está amargo como fel, mas não tão amargo quanto a sua ausência...
Se agora estiver se perguntando se isso é um pedido para que volte saiba que não. Não quero te esquecer isso é fato. Sei que você me ama. Ainda te amo. Mas não posso me ferir e continuar seguindo suas pegadas pra tentar te alcançar. Vou pegar carona a beira da sua estrada. Problema mesmo vai ser se o cara que carinhosamente me ofertar o banco do passageiro estiver sozinho e for tão belo quanto eu posso imaginar. Problema pra você é claro, que vai me ver passar por você ali, descansando no meio fio, e te olhar com afeto mas também com desdém por quê a sua insegurança e covardia não me deixa alternativa se não te deixar ali, perecendo, a beira do abismo.