A Palavra Tempo
Algumas vezes na vida a escrita pode não transmitir com fidelidade as emoções ou verdadeiras intenções daquele que a produziu. Em um diálogo escrito a pontuação pode ser de fundamental importância, caso contrário o resultado será desastroso. Mesmo assim, ainda se corre o risco da má compreensão do que foi escrito. Há como interferência também o fator tempo. Em uma conversa prolongada teremos tempo de acrescentar fatos que esclareçam qualquer dúvida do leitor, mas o leitor pode em seu livre arbítrio decidir colher apenas a primeira impressão que teve. O que perdemos com isso? Perdemos a oportunidade do diálogo que conduz à compreensão e finalmente à aproximação. Perdemos a oportunidade de continuar construindo um pouco de nós no outro ou vice e versa. Quando falamos sobre o tempo, esse pode se tornar um fator de guerra ou de paz, de aproximação ou distanciamento, de chegadas ou partidas. Creio que quando inserimos o tempo em nossa fala, ele não vem só. Ele arrasta com ele grandes reflexões e as pausas para ela. O tempo e a maturidade que a palavra exige, o tempo e a seriedade do que ainda diríamos. Diríamos no tempo certo, minutos depois da emoção, afinal isso ocorre fora dos textos científicos. Seria um grave erro esperar que textos científicos fossem carregados de emoção e que a palavra tempo, escrita nele, tivesse um emprego idêntico a outro como narrativas ou diálogos. Pois em narrativas ou em diálogos o tempo é quase que um ser com enormes asas brancas, carregado de céus estrelados e com sua magia de construir, como se ele fosse a mulher que gera o dia que virá. No tempo assim, há mistério e docilidade, espera e ansiedade, encantamentos e realidades. Devemos ter muito cuidado quando escrevemos uma frase com a palavra tempo!