Carta ao Fuhrer (1944)

Auschwitz, 25 de Setembro de 1944

Excelentíssimo Fuhrer,

É com imensurável dor que me dirijo à vossa excelência.

Estou concentrado em Auschwitz desde o dia 15 de Abril do decorrente ano. Eu e mais duzentos homens do 3º batalhão de frente inglesa, fomos surpreendidos por vosso exército nas proximidades de Berlim. Peço desculpas pelo modo em que esta, escrita em um pedaço de tecido de minha farda, chega à vossa excelência, mas aqui em baixo não há maneira de ser cordial e elegante.

Desejo ilustrar para vossa excelência o quão árduo é a vida aqui em baixo, nas masmorras.

Em total respeito aos vossos pensamentos Arianos e a vossa convicção sobre as raças dominarem umas às outras, trago-lhe-vos um pensamento de quem sofre com equivocada ação separatista.

Eu e todos os meus homens da infantaria de combate nunca concordamos e nunca maltratamos prisioneiros. Apenas defendemos nossa nação da aniquilação.

O país de vossa excelência passa por reconstrução depois do mal da guerra anterior e não precisa de mais mortes. Precisa de vida. Precisa das boas ideias de reconstrução de vossa excelência.

Aqui em baixo lutamos por alimento com ratos, aranhas, e lutamos por espaço com outros homens já adormecidos definitivamente e mau cheirosos. Lutamos pelo ar que respiramos, pois, na terceira jaula os soldados franceses lutavam para não respirar, pois vossos homens os prenderam em câmaras com gases letais.

Pergunto-lhe : será que algum homem no mundo tem o poder de escolher quem vive e quem morre?

Essa mesa em que vossa excelência apoia esta, certamente não foi produzida por um alemão. O tecido em vossa mão, certamente foi criado por um egípcio. A pólvora que esmaece a visão dos homens, foi desenvolvida pelos chineses. O mundo gira em total comunhão entre os povos. Cada nação tem papel fundamental na construção do mundo. Somos todos vindos de um ancestral comum, como afirma e explica Darwin.

Se todos somos importantes, por que executar raças, religiões e culturas? Sentimos medo. Sentimos dor.

A dor é tão grande, que mesmo lutando somente contra doenças e cadáveres, preferimos ser executados a continuar nessas condições. Me dirijo a vossa excelência como representante dos soldados capturados. Como líder, prefiro a morte de todos, do que olhar nos olhos de meus homens e ver que a esperança morreu.

Se vossa excelência não pretende nos matar, liberte-nos e impeça a continuação dessa guerra. Vossos homens também estão sem esperança de vida. Essa guerra não mostra o poder de cada nação. Mostra a fraqueza que cada um tem em enfrentar o outro irmão.

Excelentíssimo Fuhrer, não deixe a nação germânica morrer. Lute por vida e não por morte.

Caio Vieira
Enviado por Caio Vieira em 08/03/2015
Reeditado em 12/03/2015
Código do texto: T5162506
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