Carta à um pai falecido.

São José dos Campos-Sp, 23 de fevereiro de 2015.

Oie pai, escrevo pois tenho certas dúvidas para tirar contigo. Quando vivo, você acreditava em um sentido pra vida? Como você encarava os desafios que ela lhe dava? Você tinha chulé, medo de facas afiadas, saudade do mar, pavor de aranhas e bichos peçonhentos? Você amava? Nós, seus filhos, fomos motivos de felicidade para você? de desespero? o que você sentiu quando nos segurou no colo pela primeira vez? Pai, estou perdida, preciso de suas respostas, as perguntas gritam dentro de mim, cadê você? Quem foi você? Onde você está?

Quando o senhor partiu, eu era uma criança, nada sabia da vida, a maldade humana não significava absolutamente nada pra mim. E hoje depois de 15 anos sem seus abraços, sem ouvir sua voz sem ter você em casa. Eu sinto de forma muito forte sua ausencia, seria tudo diferente se você estivesse aqui, eu não teria passado por tanto coisa. Poderiamos comprar um sorvete no final da tarde, sentar na sua camionete e conversar tanto sobre a vida, queria tanto saber o que ela significava para você, o que te fazia feliz papai? O que lhe fazia dar risada, daquelas que até doem a barriga?

Mamãe também sente sua falta, eu sei. Engraçado, ela nunca mais arrumou ninguém, ela é uma heroína pai, você teria muito orgulho da mulher que escolheu para criar seus filhos, mas ela não da conta de tudo sozinha, ela é só uma viuva mãe de 3 filhos, 3 criança crescidas sem o pai. Doeu morrer pai? A bala quente atravessando a pele, queima? eu espero que não tenha dado tempo para o senhor sentir dor. Mamãe fala que temos de perdoar os bandidos que lhe tiraram a vida, mas como papai? como perdoar quem nos faz mal? Quem o tirou de nós?

A tia falou que viu você no necrotério, estavam serrando sua cabeça quando ela entrou, ela jogou seus miolos no lixo da padaria pai, no lixo da padaria... você não ia gostar disso, eu sinto muito estar lhe contando. Mas pai, estou tão desesperada! sinto tanto sua falta.

Hoje tenho 20 anos, e mais de 20 historias tristes para contar, pensei em suicido muitas vezes, passei por coisas que você ficaria revoltado por ter acontecido comigo, e coisas que ficaria puto por eu ter feito, queria lhe dar orgulho pai, mas tudo que sei é que a vida não tem sentido pra mim, essa falta de algo q eu sinto essa necessidade de entender o porque das coisas, de querer achar um sentido...AH meu pai, isso tudo é a falta que o senhor faz, sinto tanto por você não ter sido de ferro como eu achava que era. Quando me pegava no colo nesses braços enormes, eu me sentia o ser humano mais seguro do mundo, você era meu sinto de segurança, hoje estou a meriva levando chacoalhões da vida. Mas sabe, se tem uma felicidade dentro de mim, ela esta em saber, que eu tive um bom pai, e que posso sentir saudades dele, sem medo. Eu te amei tanto, acredito que você também me amava, eu te amo tanto, você ainda me ama papai?

Adeus

Lolitta
Enviado por Lolitta em 23/02/2015
Código do texto: T5147152
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