Ex-futura

Passar em frente ao seu ex-local de trabalho já não tem mais graça.

Sim, eu até atravesso a rua porque meu coração dói.

Dói ao olhar de longe a janela da sua sala aberta e saber que você não está lá.

O ar-condicionado está ligado, e você não está lá.

O café está quentinho, e você não está lá.

O computador está ligado, e você não está lá.

...

Marco uma agenda com a nova responsável pela Pasta (só pra ver a cara dela).

E vou.

Não me sinto mais em casa naquele lugar.

Gente estranha...

Mas cá estou eu.

Parabéns, nova responsável pela Pasta!

Boa Sorte! Desejo-lhe uma boa gestão.

Saio.

Tchau.

Sem intimidade.

Muita formalidade.

...

A sala estava igual.

O sofá no mesmo lugar.

(Menos a mesa, a mesa não estava mais no lugar).

A água foi servida no mesmo copo.

Tudo estava igual, (menos a mesa).

Aliás, tudo estava igual, mas nada mais era normal.

Não tinha mais o seu brilho.

Não tinha mais a sua luz.

Não tinha mais seu olhar azul e curioso.

Não tinha mais suas frases nos murais.

Não tinha mais sua sede de rebeldia e atitude.

Não tinha mais você!

E sendo assim, não era mais um lugar no qual eu gostaria de estar.

E então, eu saí, sem olhar pra trás.

E ao ouvir a porta bater atrás de mim, acenei para o último quadrinho da parede à esquerda de quem sai da sua ex-sala.

Tirei um giz de cera vermelho do bolso e desenhei um coraçãozinho em volta do quadrinho.

Ninguém viu.

Olhei novamente com um sorriso maroto e arteiro para sua foto na parede e disse baixinho a ela: - Tchau, sua linda!

E então, apurei o passo sem olhar pra trás, rapidamente, saí daquele lugar que eu não conhecia mais, e com certeza, vou demorar muito pra voltar...

Jenifer de Verdade
Enviado por Jenifer de Verdade em 01/02/2015
Código do texto: T5122618
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