Blindado coração.
A dor blinda a alma que, enclausurada se desespera. Arranca-se do peito o coração aos pedacinhos, tornando maldito cada minuto da espera. E esperando na morte o fim dessa dor nos deparamos com a vida. Assim, não vive o poeta; apenas arrasta a maldição de sua existência vazia. O barco dos sonhos naufraga. E no fundo do rio se perdem estórias e lembranças. Tem o poeta tempo de aprender sem ter tempo de ensinar; tempo de falar de amor em poesia sem sequer ter tempo para amar. Tem todo o tempo do mundo, e o mesmo tempo o consome em noites frias e vazias de perdas e despedidas; tem na vida o poeta tempo demais e vida de menos. Triste sina tem o poeta, a de amar na dor e nos versos desnudar sua alma, rasgar-se por inteiro, compor versos de amor verdadeiro sem ter o direito a vive-lo na sua intensidade absoluta. E, no derradeiro ato de amor incoerente, compor o poeta canções que falem de amor, sem jamais ter o direito dele se encantar mais, que pensamentos.