Carta à Saudade

Meu Profundo Interior, 19 de janeiro de 2015.

Saudações, querida amiga. Você está bem? Aliás, nem sei porque ainda te pergunto isso, afinal, você permanece o tempo todo comigo e tenho plena convicção que estás melhor que eu.

A propósito, se eu pudesse resumir a minha vida inteira em uma palavra, seria “saudade”.

Sinto saudade dos momentos, das pessoas, de objetos e, por incrível que pareça, de coisas que eu ainda nem vivi ou sequer tive. Isso é estranho, mas é exatamente o teu poder agindo sobre mim.

Às vezes me questiono se você não tem outras pessoas para manter uma relação tão próxima quanto a nossa, Saudade, e desse modo, te fazer gastar as energias que, sinceramente, acho que você concentra somente em mim.

Olha, Saudade, eu sei que você jamais poderá me deixar em paz. De certa forma eu me conformei com a tua constante presença até o fim dos meus dias, pois algumas pessoas que já se foram e não posso mais tocá-las, abraçá-las, compartilhar sorrisos, beijá-las nem tê-las por perto, me limitam, ironicamente, a apenas sentir saudade.

Mas não, calma! Me desculpe se o que você leu até aqui te deixou a impressão de que eu quero a todo custo me livrar de ti. Não é isso. Eu reconheço a tua incontestável importância. Com todas as dores silenciosas que você me causou durante intervalos consideráveis de tempo pelo decorrer da minha vida, eu aprendi a valorizar mais as pessoas e os momentos.

Entendi que a tua real intenção, Saudade, é me fazer apreciar cuidadosamente todo e qualquer detalhe relevante antes que eles se tornem apenas memórias ou lembranças torturantes.

Ainda poderia estender essa carta, querida amiga, ambos sabemos disso, mas acho que disse o suficiente, embora não seja nenhuma novidade para você. Eu só te peço que sejas menos intensa e que não me visites durante as noites de insônia, porque é um sofrimento sem igual.

No mais, te deixo um enorme abraço acalentador, pois é exatamente um abraço assim que eu desejo quando você decide fazer morada em mim.

Jey Leonardo.