Inesquecível

Inesquecível...

Hoje fui vencido pela força indomável desta saudade que flagela sem clemência.

Hoje, inflamado por este fogo que me arde o peito, não pude conter o ímpeto de uma vez mais buscar, ao menos na lembrança, um doce instante de ventura que possa debelar a dor e secar o pranto que nasce da tua ausência e afoga o meu ser num oceano de amargura.

Esta saudade imensa, fruto de um inoportuno adeus é, sem dúvida, uma muralha intransponível, uma cadeia forte que me prende a um lindo, porém, trágico passado de sonhos e emoções, de tal forma que eu não quero mais amar a ninguém;porque o destino não quis o meu primeiro amor, que morreu cedo, como uma flor ainda em botão e deixou a tristeza como espinhos ferindo no fundo de minha alma.

Por isso estou só na sala de minhas recordações, olhando aquele seu retrato na inútil esperança de ouvir ainda o som doce daquele sorriso encantador; entretanto, apenas o silêncio enche o vazio desta sala e vela comigo este ataúde de nostalgia, onde, debalde, se canta e sorri. Não tendo a sua presença, apenas um soluço se desprende das profundezas do coração inundando-me com mil perguntas e de mil maneiras, ao que dou por resposta somente um fio de lágrima, a molhar as minhas faces afogueadas, na vã tentativa de apagar as fráguas desta paixão que consome o meu ser.

Mas, se possível me fosse tornar ao passado, sem demora eu o faria; se isso me permitisse ter-te novamente tudo eu daria pela oportunidade de ser feliz uma vez mais; sorrir e cantar com a alma e com o coração. Talvez, assim, findasse este sofrer; talvez houvesse um motivo para eu querer rabiscar um poema que não fosse e melancólico e no qual eu pudesse abrir o meu coração e deixá-lo falar livremente de seus desejos mais contidos; derramar a minha alma em contentamentos e guardar em frascos perfumados, gotas de felicidade sem fim, colhidas do puro néctar das alegrias. Talvez nunca mais fosse necessário o pranto e o penar viesse a ser coisa esquecida um passado bem distante. Ah! Se possível fosse! Se me fosse permitido refazer o mesmo caminho, indubitavelmente eu o refaria, pois assim, sentiria o prazer de viver novamente aquelas delícias que agora só acontecem no plano abstrato do sentimento e da lembrança!

Porém, inúteis são essas vontades e débeis são esses devaneios. Tudo está acabado; e impossível é fazer ressurgir das cinzas um sentimento já tão ressequido pelo sol forte e causticante dos ressentimentos que corroem todas as possibilidades de um novo recomeçar.

Resta-me, então, enclausurar-me para sempre na cela desta louca saudade e, assim, transformar o meu viver num quadro estático, onde mais nada aconteça ou, quem sabe, reunir todas as forças para tentar reacender sob neve algente, uma chama que seja capaz de derreter um coração petrificado e frio e reaquecê-lo com calor de um novo dia, para senti-lo pulsar como antes, quando o crepitar das chamas do amor lhe era alimento reconfortante.

Abnel Silva
Enviado por Abnel Silva em 06/01/2015
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