Os Motivos Pelos Quais Você Me Abandonou

Uma cartinha fictícia de despedida dedicada a ninguém. Sem emendas ou revisões. Fluxo de consciência. Da minha para a do leitor

A minha desenvoltura em qualquer lugar e em qualquer situação.

A minha imensa paciência – muito menor que de Jó, óbvio – por aturar todos os seus escândalos teatrais, sua dúvidas existenciais, suas “crises” & “problemas” gerados apenas por você mesma. Afinal, que fantasmas poderiam assombrar uma pessoa que nunca teve dificuldades para conseguir todos os bens materiais desejáveis quando se tem família constituída por “papai, mamãe & irmãozinhos”? Daquelas que tem um jantar festivo no Natal e no Ano-Bom?

O fato que sou muito mais ético, profissional & moral que você. Essa minha eterna mania de pensar por mim mesmo depois de muita ponderação.

Meu cavalheirismo intrínseco absorvido pela pouca convivência com meu para que ficou entranhado em mim isso lhe fazia mal pelo simples fato que para manter o seu “amor” você exige inconsciente que te tratem como lixo que é e como uma qualquer que sempre será.

Minha palavra de honra.

Meu ideário libertário.

Todos os cuidados diários, vinte e quatro horas do dia, para dar atenção até ao seu mais frívolo capricho.

Minha popularidade. Minha música. Trilha sonora da minha vida. O fato de ser “alguém” por trinta ou quarenta minutos. As luzes sobre mim. As gatas vidradas na primeira fila de onde eu só tinha olhares e sorrisos para você. O fato de que o tempo todo em que estive com você eu tive que me anular para tentar dar a você tudo, absolutamente tudo, que você me exigia. Parei de comer e de dormir para poder dar atenção a todas as suas vontades.

Por ter sido o único sujeito que tinha beijado seus pés como uma virgem Maria e te reverenciado até meu último suspiro.

O nunca ter lhe traído tampouco em pensamento.

O café da manhã maravilhoso que eu te preparava quando você dormia comigo.

A sua eterna mania de distorcer minhas palavras e a facilidade com que eu lhe respondia a suas perguntas imaturas e seus anseios pueris que desnudei até o tutano dos ossos e te mostrei aquilo que as escamas dos seus olhos arranquei juntamente com a tua máscara de “boa moça” e de “tímida” pois mostrei ao mundo a idiota fútil que todos tomavam por uma “moça frágil” e que perplexos perceberam como eu sua capacidade de traição.

Você vai me odiar para todo sempre por ter curado milagrosamente suas ressacas brutais apenas fruto do seu amadorismo com minhas misturas mágicas. Afinal, para um cara que muito jovem tornou-se sua própria cobaia é o mínimo que posso fazer para reduzir danos.

Ah, falando em danos e cobaias, você deve amaldiçoar todas as minhas samsaras por eu ter conhecimento de todos os meus diagnósticos psiquiátricos, de todas as minhas dependências, vício em vícios, co-morbidades e co-depedências, depressões clínicas e químicas, traumas, eu ainda tenha a lucidez necessária para manter meu dia-a-dia e cumprir com as minhas responsabilidades que são tantas e que eu pago com um sorriso no rosto para manter a minha liberdade que você queria cercear eu que de forma alguma eu iria abrir mão.

Você saber que eu escrevo, toco, canto, trabalho, digito, penso, leio, falo, declamo & discurso melhor que você. Não preciso de “rituais de passagens” nem mesmo de dar satisfação ao vizinho para ser melhor que você. É só inspirar e expirar. Não preciso me esconder atrás de minhas madeixas para finjir que não te conheço. Finjo olhando nos seus olhos. E, aliás, não te conheço. Conheci sua “persona pública” e me apaixonei por ela não pelo monstro que você é na intimidade, traidora, falsa, sem princípios, sem escrúpulos para conseguir o que quer na sua “zona de conforto”.

Ter “um milhão de amigos”? E ainda por cima que te acolheram? Isso não merece perdão, não é mesmo?

Minha reputação na cidade e na cena continua a mesma. De um cara bom, amigo, divertido, “inteligente”, “Sangue B., meu irmão”, sensível, honesto, trabalhador e afins. E você, babe, por onde anda com seu novo companheiro babão que você ameaça com o seu sexo e que nunca conseguiu empurrar comigo essa cascata brava. Não se preocupe você não foi a única que tentou e não consegui e nem será a última que eu vou enfiar o pé na bunda se fizer isso.

Me abandonou por eu te amar demais. Por ter sido unilateral. Só da minha parte.

Contudo, dama, não lhe tenho ódio. De tanto você repetir nas suas crises histéricas que sentia nojo de mim comecei a assimilar e nutrir o mesmo sentimento de repulsa por você. Asco mesmo de ter levado você pra cama. Faz mais de ano que não transo e ainda não estou preparado. Só de pensar lembro de você e vomito porém um dia há de passar pois solteiro sempre solitário nunca que sou vou superar mais esse trauma. Sexo não é tudo depois que se passa dos quarenta e só a cereja da cobertura do sangue. O bom é a ligação espiritual karmica que tivemos e você conseguiu negar. Dane-se, a química sempre esteve presente e nunca funcionou porque não gosto de brigar com ninguém. Não curto praticar o seu esporte preferido que é discutir.

Tentar humilhar quem te ama. Sou imune a isso. Ninguém com um pingo de coragem se deixar humilhar ou se diminuir, pois sabe seu lugar. Você ainda almeja o seu. Crescer dói. Tem gente que apodrece antes de amadurecer e esse é seu caso. E disso eu gostaria que você tivesse nojo. E é disso que eu tenho nojo.

Feliz Ano-Novo.

Curitiba, 18 de dezembro de 2014, último dia do ano forense, 26 graus, Primavera.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 18/12/2014
Código do texto: T5073731
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