O AMOR DERRAMADO

(para Arícia, sobrinha querida)

Em primeiro lugar, parabéns pela criatividade! Pelo texto (abaixo) que denota muita sensibilidade. Agradeço a tua atenção em me honrar com as tuas linhas de amor derramado.

Salve os teus 19 anos e a descoberta de alguns dos primeiros mistérios dolorosos...

Quase todo o jovem faz suas confidências no papel. É próprio da idade. Ele confessa a si próprio o que não sabe dizer pessoalmente à pessoa amada, por inibição ou insegurança. É o que fazes aqui, sem nenhuma dúvida.

As reticências denunciam claramente o que afirmei antes, não é? Dei uma guaribada no texto, diminuindo a inserção de reticências, colocando-as somente onde fossem toleradas.

Hoje em dia não se as usam mais em profusão, com o exagero de algum tempo atrás. A linguagem amorosa atual, mesmo sendo doce, é direta, clara, sem muitos rebusques.

Reticência é o traço de um suspiro, suas pegadas implacáveis. Aqueles que nascem do coração e se derramam sobre o papel de cartas e de bilhetes enamorados.

Também “limpei” o texto e corrigi colocações pronominais frente aos verbos.

Mas aqui não há ainda, a rigor, Poesia, porque faltam as METÁFORAS, ou seja, palavras que têm duplo sentido, e que são figuras de linguagem que caracterizam o texto poético e denunciam CLARAMENTE a existência de POESIA.

Fala com a tua professora de Literatura e pede que ela faça uma abordagem sobre as metonímias, metáforas, e outras figuras de linguagem.

O que fazes é um confidencialismo, que é o embrião do poema de amor. É mais um recadinho não dito pessoalmente...

Se continuares a escrever, a prática vai te trazer novidades, e, por certo, vais chegar ao poema com Poesia.

Mas, para se chegar à Poesia é necessário, mais do que nunca, ler muito, em todos os gêneros e estilos. Porque do nada nasce o nada...

Como querer escrever sem muita leitura? Ainda mais Poesia que é a palavra em seu vestido de festa...

Salvador, Bahia, 30 de maio de 2007.

SAUDADES MIL

Arícia Moncks

Um dia acordei longe de você, pensei...

Te perdi, o que fiz?

Iludi-me, fecho meus olhos e te vejo ali...

Às vezes choro, outras dou risadas,

E eu ali te olhando, encantada com o teu jeito,

com o teu sorriso...

Nunca pensei em te fazer mal, queria apenas

amenizar as coisas ruins.

Sabe? Quando te olhei

não sei dizer o que vi o que senti,

apenas gostei.

Cada dia que passava pensava mais em ti.

E quando percebi, aconteceu.

Não pude mais controlar meus sentimentos!

É o desejo, talvez, não sei...

Só sei que quando te vejo fico assim,

perdida em meio tanta confusão,

pensando, apenas, em ti...

Então?

O que faço para acalmar o meu coração

que bate estranho no meu peito?

Não tem jeito, sinto falta de você...

E sabe por quê?

Porque amo você!

Pelotas/RS, 24/05/07.

– Do livro CONFESSIONÁRIO - Diálogos entre Prosa e Poesia. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 237:9.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/506883