Minha cara amiga Glaucia
Cruz das Almas, 29 de Janeiro de 2014
Minha cara amiga Glaucia
“Eu não pretendo provocar nem atiçar suas saudades, mas acontece que não posso me furtar a lhe contar as novidades” aqui da terra. O ano novo começou e um mês já se foi. Toda manhã, quando vou abrir o portão da minha casa, a sua palmeira me dá um bom dia e as suas folhas farfalham um sorriso. Ai eu sei que você está ali, na sua alma. Ela continua crescendo e se assim continuar e a cidade não crescer para cima, mais depressa que ela, vamos conseguir vê-la, desde a Praça Senador Themístocles, bem da porta da casa de Seu Jorge. Nem sei como lhe mandar esta carta porque o correio, depois do E-mail, deixou de ser arisco e por certo não vai conseguir lhe entregar esta carta e na falta de um portador vou rasgá-la em pedacinhos e jogar para o ar; quem sabe o vento não os deponha nas últimas folhas da palmeira como aconteceu com aquele bilhete que você fez para mim, arrependeu-se, rasgou em pedacinhos que apareceram, inexplicavelmente, no meu jardim aos pés do meu velho flamboyant. Este ano, acredito que devido a sua ausência, ele teimou em ficar todo verde, não menstruou dezembros rubros como antes; não floresceu flores vermelhas. Talvez porque você não esteja do outro lado para apreciá-las. A palmeira também não frutificou os seus coquinhos vermelhos. Estamos verdes e saudosos.
Este ano é ano de “copa” e “aqui na terra tão jogando futebol”, mas tem pouco samba, muito ”arrocha”, pagode e pouco Rock’n roll e ainda tem gente que ouve funk, mesmo depois do que fizeram Chico, Caetano, Vinicius, Tom Milton e outros que tanto nos encantaram. Não quero atiçar as suas saudades, mas, neste final de ano, depois que você viajou, a Casa da Cultura esbanjou arte, boa música e um vídeo de Jango Batista sobre o conjunto musical os Rebeldes que suscitou divergências, vaias, inconformismos ingredientes que não poderiam estar ausentes de um legitimo festival de musica; Tudo isto no início do florescimento cultural da cidade, que nós acompanhamos de perto. O vídeo está um primor. Fiz várias cópias, mas não sei como mandar a sua. Vou esperar um portador. Quem sabe eu mesmo lhe entregue, um dia.
Como está a nossa estrela de quatro pontas? Não deixe que o seu brilho diminua. De vez em quando eu sento na varanda e a vejo brilhando no céu bem em cima da sua casa. Luciano tem aparecido? Diga-lhe que “Reflexos” está vivo e no último número, em novembro, vocês dois foram as estrelas que embelezaram as suas páginas com brilho, lembranças e muita poesia. Este ano estamos pensando em transformá-lo em revista eletrônica.
Como no tempo do Chico a coisa aqui continua preta; agora temos que adjetivar diferente por causa do “preconceito racial”; Ou seja:os dias continuam difíceis... Continuo fazendo mil piruetas pra “cavar o ganha pão”. Não sei quando vou parar com essas piruetas. Já estou ficando cansado, porem continuo amando porque “sem um carinho, ninguém segura esse rojão”.
Vou continuar escrevendo para você sempre que a aflição me provocar a necessidade de lhe contar as novidades aqui da terra.
Graça, Lita, Cris, Nelsinho, mandam um beijo para os nossos amigos que estão ai com você. A “Gai” aproveita para mandar lembranças. E do seu amigo e admirador um beijo afetuoso. HP