Antônio Carlos
-Mas que audácia, Antônio Carlos!
Tamanho desapego,
Sua mãe não te disse que pra ter sossego,
é necessário uma boa dose de camaradagem?
Acho que não.
Samanta estava preocupada com o mundo
e com aqueles homens.
-Aqueles homens,
que tentou chamar de pai.
Mas não conseguiu, não é mesmo?
Ainda acha que pode lutar pelo mundo?
Viver por algumas almas?
amar parafusos confusos?
E dizer ainda que valeu a pena?
Que pena!
Que pena acreditar nisso,
achar que água daqui é diferente da de lá,
Fico bastante confuso, meu querido,
quando ouço suas indagações,
suas divergências. -Normal para um cara da sua idade-.
Exposto a um mundo de possibilidades,
um mundo onde há muitas intenções e poucos interesses.
E não. Não são assuntos similares.
Tenho medo de que essa linguagem que te falo,
que olha nos olhos,
possa não ser decifrada daqui um tempo,
tenho medo de que minha voz se cale.
Talvez,
seja por isso que eu escreva.
Embora, com grandes medos,
há em mim uma força bruta,
quase nordestina,
quase absoluta.
Força de gente de verdade,
que pisa no chão
sem medo dos cacos.
que exala coração aberto,
e que provoca,
profunda revolução em outros seres.
-Ah Antônio Carlos,
Não estou andando em círculos,
estou apenas te dizendo, te alertando,
como um antigo amigo.
-Camaradagem-
que faz tudo sem interesses,
embora os outros só queiram favores de ti.
Mas eu não,
não quero favores,
eu quero amor de verdade,
mas não seu.