Para o meu medo
Eu tive medo naquele dia em que os meus seios começaram a despontar, tive medo da novidade e do meu sentir em arrepios. No banho passava de leve o sabonete nos bicos para não machucá-los e não sentir aquelas coisas lá embaixo...
Tive um orgasmo, tive outro e mais outro quando desci suavemente com as mãos ensaboadas nos pássaros que, agora sentiam tudo aquilo que eu jamais desconfiaria.
Meu corpo arredondou-se aos nove anos, vi os pelinhos crescerem como trigos embaralhados na timidez da lua em corte; me via nos espelhos; e resolvi estabelecer algumas regras para mim mesma: Nada de toques, mas, as minhas mãos jamais obedeciam... e desciam...
Tive medo dos homens, porque me olhavam de outra forma. Tive desejo dos mesmos homens que me comiam com os olhos. Tive dor no baixo ventre. Tive outros orgasmos frementes.
E quando senti o primeiro beijo, tive nojo. Tive repulsa do menino que me lambuzou além da boca. Depois com calma, sentada na minha cama, senti prazer em lamber a rodela do meu joelho e as costas das minhas mãos, senti a língua bem molhada, senti um estremecimento e deixei o meu dedo deslizar nos meus pelos...
Depois chamei esse mesmo menino, e beijei-o do jeito que lambi o meu joelho e as costas das minhas mãos. Aprendi também que os homens quando encostam nas mulheres, eles tremem lá embaixo. Ficam como um cacto bem duro e gostoso. - Eu senti com esse menino - E tive outro orgasmo.
E um dia veio o verão. Eu já estava moça, adulta e mais livre e sem medos, aparente. Conheci o homem que veio a me amar. E depois de muito nos amarmos, e de muitos orgasmos, certa vez, nos odiamos, nos entediamos e nos deixamos. Tive um certo medo da vida. Tive medo da solidão. Tive medo da ferida. E continuei. Olhava-me no espelho e o meu corpo já era outro. Eu já era outra mulher. E o meu medo era de um breve retorno com um outro homem e passar pelos mesmos aspectos.
Hoje eu tenho muito mais medo. O medo de perder o gosto de ter orgasmos, o medo de não me olhar no espelho por reconhecer-me em outra. O medo de transfixar o meu peito com a própria dor e não suportar e perder o tanto de medo que eu ainda tenho.