Decepção me define hoje, apenas desabafo.
Caro leitor,
Ser professor nesse país se torna a cada dia mais frustrante. Lembro-me de quando era aluna do ensino fundamental, tinha verdadeira adoração pelos meus professores, imaginava-os como seres iluminados, dotados de extrema sabedoria, a qual transmitiam aos seus pupilos. Invejava aquela inteligência toda, mas nunca fui uma cdf, como dizem. Sempre fui uma aluna mediana, dispersa, me dava mal às vezes, mas me contentava em conseguir a média ao menos e me esforçava pra isso.
Confesso que tomei vergonha na cara enquanto aluna, quando reprovei de ano. Senti na pele o que minha mãe me dizia “seus amigos vão pra sétima, e você vai ficar sozinha na sexta série”. De fato fiquei. Foi quando me vi gente, comecei a ser elogiada pelos professores, comecei a ler muito, coisa que até então eu não fazia, passei a tentar focar nas aulas apesar do déficit de atenção, sempre fui muito “auditiva”, se ouvisse a explicação entendia tudo e me dava bem. O meu problema estava justamente aí.
Quando me descobri professora, fiquei orgulhosa de mim mesma, afinal estaria no mesmo patamar daqueles que um dia admirei tanto. Me formei em letras sem saber o que é um exame ou uma prova de segunda época. Antes mesmo de terminar a faculdade já estava na sala de aula. Sempre achei que ser professor é um dom de poucos, pois não basta saber o conteúdo; o segredo está em saber ensinar. Tenho total certeza de que as aulas que eu dou são muito boas, sou uma excelente professora, mas me pergunto; pra quê, se na maioria das salas nas quais eu entro os alunos não querem saber de nada? Pra quê, se o celular e as redes sociais são muito mais interessantes pra eles? Pra que, se não há o respaldo principal para que eu possa desenvolver um bom trabalho, que é a educação dada pelos pais? Sim, porque professor não educa, não é essa a minha função; sou paga, e mal paga, para ensinar.
Meus alunos são na grande maioria adolescentes de 13, 14 anos, há quem diga que é a fase, que faz parte da idade e por aí vai. Pra mim são apenas desculpas esfarrapadas, pois eu tive a idade deles e nunca mandei nenhum professor meu se ferrar, ir à merda e afins, pra ser sutil. Nunca agredi professor nenhum, nunca sequer respondi a um professor meu com um tom que não fosse de respeito, mesmo quando acreditava que estava certa. E isso tudo acontece comigo, já fui xingada muitas vezes, já apanhei de aluno duas vezes e já ganhei uma bala calibre 38 de presente numa caixinha de veludo azul com um recadinho que dizia que a próxima seria na minha cabeça. Já fui ameaçada por pai de aluno, pasmem, e me questiono; o que eu fiz? Apenas tentei dar aula.
Apesar de todos os percalços, não me dei por vencida e estou bem longe disso. Ainda acredito. Podem chamar de utopia ou de masoquismo. Eu chamo de sonho, e dos meus sonhos eu corro atrás e na grande maioria das vezes eles se concretizam.
Isabel Cristina Oller