Insónia

Meu amorzinho querido,

É 1.19 da manhã. Já vi a novela brasileira, já vi a novela portuguesa e o sono não vem. Neste momento, enquanto escrevo, vejo o "Fiel ou Infiel" com o João Kléber - um momento, a esposa traída acabou de dar uma estalada ao marido infiél. Passo ao relato do que vejo. O JK está com cara de caso a dizer que há uma terceira pessoa. Suspense! "Silêncio, silêncio!" diz o JK. A plateia tem sempre imensa vontade de rir perante a "desgraça". Entra outro homem, o Homero. "Agora é que o bicho vai pegar!" O Homero vai falar. O Homero conhece o casal. O JK interroga o Homero. Este fala dos copos que toma com o marido infiel. JK está com cara de caso. "Homero, porque motivo veio ao programa?" pergunta o Kléber. O Homero veio para tentar que a esposa traída perdoe o infiel. Homero está com as lágrimas nos olhos. Pede à traída que perdoe. Ela não quer, diz que ama o marido e por isso não o perdoa. Neste momento ela fala em dignidade. Jk diz ao casal que reflicta bem e anuncia o próximo caso que "vai ser escaldante!"

Que ridículo! Não achas amorzinho? Nunca sei se isto é verdade ou encenação. Custa a acreditar que alguém pense em expor o parceiro daquela forma. Como é que se pode ter da fidelidade/infidelidade uma idéia tão básica? Como se a situação encenada, desde o espaço à história e às personagens, seja capaz de testar alguma coisa. Toda a situação só confirma o que já se sabe: o amor é uma coisa frágil, a beleza é irresistível, a promessa de aventura é sedutora e a rotina diária é insuportável. No fundo, o único sentimento que verdadeiramente nos prende é a paixão! Passada esta fase feliz e infelizmente passageira, ficamos vulneráveis. Queremos mais, queremos muito, principalmente aquilo que não temos.

Vou continuar a partilhar a minha ausência de sono com o Kléber. Terminou o intervalo. Com sorte, adormecerei antes do programa terminar.

Não posso prometer que vou pensar em ti. Estou numa fase de insónia e de vazio. Quando voltar a mim, volto a escrever-te.

Beijo-te