Uma desistência e seu castigo
Há anos vinha construindo uma fortaleza tão bem estruturada que quando ela ficou pronta e eu finalmente pude-me sentir segura, simplesmente me lembrei de que em parte alguma construi uma saída, muito menos pensei numa rota de fuga. Perguntei-me o porquê de não tê-la feito e me assustei com a resposta: porque não quis.
Assustei-me mais ainda com os desdobramentos deste não querer e percebi algo simples: o medo se apoderou de mim de uma forma avassaladora, indestrutível. Descobri que desenvolvi a defesa de controlar toda e qualquer emoção que eu tente ter e que se mesmo assim ela insistir em sobreviver: a fuga sempre será a melhor opção!
A melhor opção pra evitar a decepção, a mágoa e o sofrimento. Escolher desistir do amor, da paixão de alguns sentimentos que alguns acham fundamental pra viver me fez perceber o quanto somos tolos e vulneráveis. Tolos por acreditarmos que uma existência sem ter alguém ao lado não tem sentido e vulneráveis porque este pensamento nos torna mais fracos, mais propensos a sermos tomamos pelo medo.
A conclusão a qual cheguei é que minha fortaleza me tornou uma mulher covarde e não forte como eu acreditava. E depois de muito pensar a respeito, preferi permanecer covarde, este foi o meu castigo por desistir. Escolhi um caminho que tem volta, mas eu não a quero. Apesar de cada poro do meu corpo suplicar por sentir novamente aquele frio na barriga, o coração acelerar, a respiração faltar por alguns segundos minha covardia me faz lembrar a toda hora os riscos que corro.
Então continuo desistindo, fugindo e vivendo uma existência sem graça, monocromática e superficial. E ainda assim tenho motivos pra acordar todos os dias e ser feliz, apenas porque ainda me sinto segura presa em minha fortaleza, com minha covardia latente e crescente. Não penso em como será o dia no qual acordarei e verei que tudo isso não passa de uma sucessão de enganos.
Mas, por algum motivo pensei hoje e decidi escrever sobre isso. Imaginei mil e uma situações nas quais descobria o quanto estava errada ao me tornar uma completa covarde, e em todas elas o resultado foi o mesmo: vai chegar um dia em que não poderei e nem conseguirei fugir e quando esse dia chegar eu serei obrigada a me permitir como há anos não venho me permitindo sentir.
E quando esse dia chegar estarei completamente perdida e livre, totalmente liberta das amarras de meus medos e da minha covardia. Finalmente, terei a coragem de correr todos os riscos novamente, de ser tola e vulnerável, de viver a doces e amargas sensações de se apaixonar, de amar. Poderei, enfim, demonstrar um pouco de compaixão, de amor, de sentimentos puros. Poderei rir por sentir ciúmes, por ser terrivelmente insegura e imperfeita... Por ser apenas EU.