André Luiz Soler de Oliveira
Te escrevo, André, para saber como tu está, porque eu não sei mais o que fazer. Quando eu me encontrava – ou me perdia – em situações semelhantes a essa, ia na tua casa, a gente rolava uns dados, ria e bebia coca-cola. André, se eu for na tua casa hoje, tu não vai estar lá.
Eu lembro quando a gente reunia e conversava sobre a Vida, o Universo e Tudo o Mais. Em maiúsculo mesmo. Eu lembro que, por tu ser mais velho, eu me irritava porque parecia sempre que eu sabia menos. Mas eu sabia menos. Mesmo assim tu encontrava jeito de aprender comigo, o que também era uma maneira de me ensinar.
Dói, André, falar de ti no pretérito. Não vou mais fazer isso, porque eu sei que tu não gosta quando eu fico triste.
O Rodrigo me ligou pra avisar. O Macário ligou pra me consolar. Daí foi minha vez de avisar e consolar o João. Até nesse momento tu encontra um jeito de lembrar a regra máxima de quando a gente jogava RPG: “não separarás o grupo”.
Tinha gente que zombava do nosso RPG. Gente besta, né? André, a gente enfrentou dragões vermelhos, mortos-vivos, minotauros escravagistas… Salvamos o mundo juntos, e o que essa gente fez? A gente que devia zombar deles serem tão pequenos, mas a gente nunca fez isso. A gente sabia que era tudo imaginação, mas valia igual.
Sabe, André, eu não vou me alongar nesse texto. Temos muito o que conversar ainda, não vai dar pra ser tudo de uma vez. Essas palavras eu vou publicar, ok? Eu quero tornar pública a minha tristeza. Não compreendo o luto ou o pesar, esse tipo de coisa não combina coma naturalidade com que nós vemos as coisas, eu e você, mas vejo necessidade de anunciar essa perda, tão importante.
Eu sei, companheiro, que eu não te perdi de verdade. Tu é agora uma estrela brilhando na minha memória, uma luz que eu posso apreciar na noite solitária. Mas a gente não vai mais rolar dado junto, nem rir ou beber coca-cola. Isso agora acabou. É lembrança.
Divirta-se, André. Vai te aventurar no astral, mas vê se volta. Tô te esperando.