Uma carta para um amigo poeta

BsB, 15/08/14

Grande Goulart, com certeza ando sumido. Quanto tempo? Se não me falha a memória tem pelo menos uns dois anos que não nos falamos. Parece ironia do destino, a Internet tão perto e nós tão distantes. Eu estou bem. Fiquei por demais feliz com sua lembrança, confesso que tenho saudade dos tempos em que trocávamos e-mails todos os dias, contando as nossas novidades e dando as boas vindas aos novos poetas que se juntavam a nós. Tenho visto seus Poetrix no Facebook, cada dia gosto mais. Parabéns pelas vitórias que tem conseguido com seus textos e livros. Você as merece. Obrigado por ter me convidado para fazer parte do grupo Poetrix, foi a partir dele que tomei gosto pela poesia.

Continuo escrevendo e publicando no Recanto das Letras os meus Poetrix. A cada dia mais me aproximo deles, na busca de novas formas e maneiras diferentes de escrevê-los. Sempre disse, e ainda creio, que o Poetrix só está começando. Ainda temos muito o que pensar e desenvolver para que ele permaneça no crescente que você sempre sonhou.

Ando sumido mas nem tanto, sempre dou uma lida nas publicações no Facebook, para me manter a par do que está acontecendo. Às vezes troco umas ideias com o Hércio, outras vezes fico mesmo na observação. Cheguei a publicar no Recanto um texto falando sobre as imagens que são postadas junto aos Poetrix. São Observações Delicadas, mas creio que devam ser consideradas, uma vez que, para mim, as imagens não podem ser mais chamativas do que o poema, quando isto acontece, acredito que o Poetrix perde sua função principal, perde o susto e as imagens que ele poderia oferecer aos leitores.

Outro dado que me levou ao sumiço aparente, foi o fato da migração do grupo para o Facebook, acho que nessa passagem nós perdemos o que tínhamos de mais valioso que era a comunicação direta uns com os outros. As questões eram postas em um mesmo e-mail, todos discutiam abertamente, eram relações muito próximas. Trabalhávamos como se fôssemos realmente uma grande oficina. A sensação que eu tinha era a de que cada um de nós adotava um principiante e o seguíamos até que ele deslanchasse sozinho. Me lembro que perguntávamos ao autor: e se fosse assim? Escrevíamos um novo Poetrix para que ele comparasse com o seu, caso concordasse, ele alterava o seu ou fazia novas modificações até que chegássemos a um denominador comum. Não havia melindre, não havia segundas intenções. Desta forma o iniciante criava asas rapidamente. Ouso dizer que com mais qualidade e menos quantidade. Não vejo isto hoje em dia. Tudo me parece solto, cada um para o seu canto. Quando muito vejo: legal, muito bom. Acho isto muito pouco, quase vazio. Para mim, o Facebook deveria ser uma vitrine e não estante de versos onde cada um coloca o que quer, sem se dar ao trabalho de dizer para outras pessoas: “olha eu aqui”! Antes tínhamos a escolha do melhor do mês, aquilo era fundamental. Cada um de nós, através dos votos que recebíamos, sabíamos exatamente a direção que estávamos tomando. Cada voto que eu recebia era comemorado com muita alegria. Aquilo me dava ânimo, me fazia pesquisar, ir atrás de novos horizontes. Hoje não sei se isto ainda é possível, a modernidade fez com que deixássemos para trás aquelas facilidades. O Facebook, sem duvida, é uma nova realidade, ele trouxe no seu bojo um número expressivo de novos escritores, provavelmente pensar no que era antes é apenas um devaneio que faz parte do meu sonhar acordado. Um retrocesso? Ainda assim, acredito que algo deva ser feito para o bem da comunidade que você conseguiu agregar ao seu redor.

É importante dizer que os poetrixtas não estão me vendo no Facebook, mas eu os vejo todos os dias, estou de olho. Às vezes escolho um autor para Cristo, vou nos seus passos por vários dias, infelizmente, na maior parte das vezes, não vejo melhora, os poemas são os mesmos, mudam apenas as palavras de lugar... nem a estrutura é alterada, rimam lé com cré. A sensação que tenho é que leram a Bula Poetrix muito superficialmente, sem o cuidado que ela merece, aí fica parecendo uma receita de bolo caseiro.

Provavelmente eu esteja sendo duro demais nas minhas observações, mas é isto o que me passa pela cabeça neste momento. Não sei se essas pessoas estão dispostas a ouvir isto ou se querem mudar. Gostaria que fossem as duas coisas: ouvir e mudar. Se nada for feito, estaremos fadados a ter um nicho de poetrixtas que cresceram juntos e um outro que remará contra a maré. Parodiando Vinícius... as feias que me perdoem, mas a critica é fundamental.

No mais, estou aberto a todas as críticas que este texto merece. Espero que sejam tantas que haveremos de nos falar muitas e muitas vezes sobre estes assuntos. E viva a poesia!!! Um grande abraço meu amigo e irmão das letras e dos sonhos.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 15/08/2014
Reeditado em 04/12/2022
Código do texto: T4923985
Classificação de conteúdo: seguro