A Carta - Parte 2
Em todo lugar que passo, as pessoas, e não só as pessoas, me olham com desprezo, desprezo no olhar. O desprezo pesa, pesa tanto que seus olhos desprendem-se das faces desses seres agonizantes.
Olho-me no espelho e vejo a face do mau. Não pelo que faço ou pelo que deixo de fazer, mas pela vida que levo, uma vida que não passa de um fardo insuportável para a maior parte da humanidade. Queria eu poder contar com alguém que realmente acreditasse de coração nas palavras fúteis que saem da minha garganta podre.
Já vivi tempo demais nesse mundo escroto, gostaria de um tempo só para mim. Isso era o que eu pensava há algum tempo atrás, mas hoje me arrependo. Fiquei sozinho por tempo demais e agora, mesmo em conjunto, continuo me sentindo só. Não me relacionar com ninguém já virou rotina pra mim. Não sei saber quando alguém gosta de mim por estar comigo ou pelo o que tenho. Como meu velho diria: "Escolha com o coração e não a dedo os teus amigos", agora eu entendo o que ele quis dizer.