PARA ALGUÉM QUE VIVE EM MEU CORAÇÃO.
Em 25 de abril de 1966, Deus agraciou meus pais com o nascimento de um menino, de olhos e cor negra, cabelo liso, ao qual nomearam de Volney. Muito amado por eles, era alguém que tinha um temperamento forte, era autêntico e não levava desaforo para casa, aprendeu a defender-se das humilhações que sofrera com o meu pai, que não lhe dava muito carinho, mas também era muito amado por minha mãe que o entendia e lhe enchia de mimos, na medida do possível. Ao mesmo tempo em que era adorável, também era detestável, pois não gostava de injustiças e falava aquilo que pensava, e por isso, muitos não o toleravam. Tinha um grande coração, era doce, uma incrível benevolência e prestatividade.
Mas pela família, muitas vezes era mal entendido por sua autenticidade por isso alguns apenas o suportavam. Não era de muitos amigos, e sim de amizades verdadeiras, não era entendido por suas atitudes, seus gostos que o diferenciavam do restante dos primos e demais amigos da família.
Quando nasci, 9 anos depois dele, Volnei me adotou, me cuidou, dava-me banho, me contava as histórias preferidas, me levava para passear, brincava, andávamos de bicicleta, me ajudava nos estudos, e era muito chato, pois não fazia nada pra mim, exigia que eu fizesse, me quebrasse, depois corrigia e me ensinava, não me chamava de burra que nem os outros, mas tinha paciência para ensinar.
Ensinou-me a dirigir, pois tínhamos um fusca 76, me ensinou as correrias da vida, me mostrou o que era certo e o errado, entre nós, não havia segredos, éramos amigos, irmãos. Ele me contava suas falcatruas, seus romances, seus sonhos e também suas mágoas e tristezas, por não ser muito compreendido.
Porém, certo dia, cinco vagabundos que todos nós da rua ajudávamos, o tiraram de nós. Era um dia lindo, domingo, 5 de novembro de 89. O dia mais triste da minha vida, pois perdia ali, um dos amores de minha vida. Até hoje não sei se tinhas culpa, se era mesmo drogado como alguns amigos e seres da família diziam, mas eu sei que quando andava contigo, tu nada fazia, e também nada escondia, da minha mãe. Os relatos dos teus assassinos, eram apenas dizendo que tu sabia demais, pois tinha visto muita coisa, sendo assim, eles precisavam te apagar.
Foi um dia, e alguns anos muito difíceis, vi cenas que jamais desejo ver novamente, a tristeza da minha mãe, era algo cortante. Mas fui forte, aguentei no peito, ajudei a todos que realmente te amavam a se levantar, como me pediram no dia do teu enterro.
Daquele dia em diante, até hoje, nossas vidas nunca mais foram as mesmas, adoecemos com a tua perda e sofremos até hoje a falta que tu nos faz.
Deus, depois disso, nos deu alguns presentes, como o Felipe, a Priscylla e o Lucas, que cuidamos, amamos como se filhos fossem que vieram para manter o nosso sorriso, mas nada é igual, falta um pedaço de mim, que foi junto contigo, meu irmão, meu amigo.
Mas sei que a vida é assim, aprendi a viver sem ti, mas te tendo em meu coração e na minha lembrança, és insubstituível, e dói muito não te ter comigo. Te amo demais, sinto muito tua falta, muitas vezes pedi, pra vires me buscar em momentos muito triste e de muita dificuldade que venci, e sei que meu lugar é aqui, junto com os nossos velhinhos.
Por mais que o tempo tenha passado, eu nunca te esqueci, e jamais te esquecerei, e sei, que onde estás, cuida de mim e dos nossos pais. Se estivesse aqui, amanha seria um dia especial, seria teus 47 anos, mas sei que aí aonde quer que esteja a festa será feita, e um motivo de oração aqui entre nós.
24.04.13