Pai

"esta seria apenas uma prosa, mas como não poderia deixar de ser, tornou-se poética!

Seria na cama, onde eu me deitava em seu braço e lhe ouvia até dormir"

Olá meu pai!

Sinto tanto sua falta... Gostaria que estivesse aqui, agora! Que tivesse acompanhado meu crescimento e minhas vitórias... Ah, pai!... Como eu queria tê-lo ao meu lado, me defendendo da vida, que por vezes é tão cruel, tão corrida!

Por muitos anos sonhei com sua volta... Sabe o que é.... as minhas maiores lembranças eram de suas chegadas e partidas... Lembro-me, das cores, das fazendas de Chita, das caçadas, das rolinhas embisacadas, da conversa ao pé do fogão, do crepitar da lenha verde, das noites de lua, das suas resenhas, da ida à cacimba, das lendas ao pé do cruzeiro, enfim, das suas idas e vindas...

Pai, sempre quis um amor que fosse parecido com você, que gostasse mais de história do que de dormir... que tivesse as suas mãos... sabe que as procuro até hoje... dedos curtos, grossinhos... bom de fazer carinho... rs. Em sua garupa viajei a Brasilia, a Belém, a Manaus... mas Goiás foi a minha preferida, não sei explicar, me encantei por Goiás, assim, assim, olhando por seu olhar... Até na Lua eu pisei, desta vez, na Apolo 11! Morri com Castelo Branco, no entanto, nem sabia que há três dias eu havia aniversariado...

Pai, nada acontecia de mais importante no mundo, do que as suas voltas, nada! O curral enchia-se de graça, minha vaquinha Mimosa até fazia troça, a égua loura entrava dentro de casa... e São João estourava na roça! Ah, pipoca, a pamonha, a canjica, o curau e a tapioca! Era um amarelão só - tudo reluzia! E a casa de farinha... lembranças tão vivas, você nem advinha!

Lembra-se meu pai, a última vez que corri pra sua cama? Um rato! Sempre tive medo de "ratos", já estava com quinze anos, mas nem importava a idade, ao seu lado eu podia ser criança pra sempre! Minhas dores d'ouvido... você assoprava e passavam...Você queria que eu fosse gente, sobretudo, advogada... Não dei para as leis, mas me viro bem com as letras!

E a besteira que fiz, ao aprender a fumar com quatorze anos... Lembra meu pai...? Você me disse: - Vai fumar na minha frente? - Ah, pai! Se você sabe que fumo, por que essa hipocrisia!? Eu te respondi tão naturalmente, que se convenceu... É meu pai, eu tinha mais "peito" que agora, o tempo travou-me as pernas e levou minha coragem embora... - Ah, ia me esquecendo... Parei de fumar faz um tempo! A partir desse dia me senti à vontade pra conversar e pra ser eu mesma diante de você... ainda que, com toda timidez que havia em mim...

Olho o espaço-tempo e quase posso ouvi-lo dizendo assim: - Para arrancar uma palavra dessa menina, precisa de um saca-rolhas... ( rs, rs...sim!!) Até o sorriso eu cobria com as mãos, catita! Agora eu falo pai, porém, somente com as pessoas que gosto, e confio!

Gostaria que tivesse brincado com meu filho, que na hora do nascimento dele você tivesse ao meu lado, esperando pra trazê-lo à luz... Queria ter ouvido ele lhe chamar de vovô, e ver você sorrindo e abraçando-o! Queria ver seu olhar ao vê-lo tocar...

Pai, queria tanto que tivéssemos tido tempo de desfazer todos os erros e mal entendidos... Que eu também pudesse ter acompanhado o seu amadurecimento e a sua velhice... Você se foi tão cedo meu pai, tão menino!... E quando eu mais lhe precisava, acho que, até hoje não achei o rumo de casa...

Quantas vezes eu quis correr para os seus braços, desabar em seu colo e lhe contar de mim... Gostaria de ter lhe ouvido também...Ah, pai eu sei ... eu sempre soube que era sua preferida... Eu fui o primeiro amor de sua vida, meu pai... Você nunca escondeu isso de ninguém!

Onde você estiver... saiba que, também foi o meu primeiro amor... e só não o perdoo pela falta que me fez... Te amo pai... até um dia!

Ps: Talvez, uma carta não-entregue, possa ser reeditada...

Quem sabe?... Todavia, bom mesmo seria se pudéssemos reeditar a vida!

- sua menina

Nalva Sol
Enviado por Nalva Sol em 10/08/2014
Reeditado em 15/08/2014
Código do texto: T4916675
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