A esperança está morta

BsB, 18/05/07

Ah meu amigo, quanto tempo, quanta luta!? Parece que esqueci o seu endereço, mas não é verdade, acontece que não ando com disposição para o sofrimento e a angústia, estas coisas têm me detonado por inteiro e às vezes pelas metades. Quando levanto penso que o sol não existe, que é tudo miragem, que a lua é apenas uma vírgula a mais em minha rotina. Aí, não lhe escrevo, me escondo no escuro.

Tenho fugido de mim mesmo, tenho procurado outras galáxias. Tudo parece grande demais e maluco de menos. Minha amada, que anda de mãos dadas comigo, parece uma estranha: perdi o seu cheiro, a musicalidade de sua voz, o calor dos seus dedos, tudo isto sem falar que os seus dengos fugiram de mim como o diabo fugiu da desgastada cruz.

Ontem, ao cair da tarde, eu brincava com uma laranja: jogava-a de um lado a outro: ora para cima, ora para baixo. O tempo vagava no horizonte quase transparente, sabia que comia meus sonhos pelas beiradas, como um besouro que come a madeira ainda verde. Fiquei imaginando o que seria daquela laranja se ela fosse descascada, se eu fosse tirando pedaços do seu todo e o branco surgisse cada vez mais e se o suco derramasse dos favos. Será que ela perderia sua essência? Meu Deus! Acho que estou perdendo minha identidade. Estão tirando o meu sangue, os meus amores, os meus desejos. Só ainda não tomaram os meus sonhos porque os escondo até de mim mesmo, mas ando com medo de que um dia os perca sem mais nem menos.

Hoje meu amigo, o céu aqui no Planalto Central está lindo. Um azul encantador. Nem uma nuvem corta o firmamento, nem uma ave ousa rabiscar o espaço sideral, ainda que esteja com fome e cede. Todos, inclusive nós, os humanos, estamos a contemplar este presente grandioso que a natureza nos oferece neste glorioso instante. Mas nem esta maravilha é capaz de banir, de dentro de mim, as tristezas fincadas na alma.

É, se fico o bico pega, se corro o bicho come! Acho que estou sendo devorado. Eu era feliz e não sabia.

Um grande abraço,

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 18/05/2007
Reeditado em 05/12/2022
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