Carta de um anônimo
Naquele dia em que eu te vi, eu percebi que alguma coisa estava diferente na minha vida. Não era intuição, era um sentimento legítimo, e não se questionam sentimentos. Eu me senti como se fossemos melhores amigos de longa data, por mais que eu nunca tivesse te visto pessoalmente até então, e me rendi tão logo ouvi a sua gargalhada – eu adoro a sua gargalhada. Você me fez esquecer as preocupações prosaicas e liberar a tensão que eu não sabia que existia em mim. A paz era onírica, cada momento era surreal, e cada um com uma doçura singular. Meus sonhos ganharam contornos e cores, minha vida ganhou brilho e virou uma poesia. Meu coração palpitava mais alegre e o calor da sensação era revigorante. Alguma coisa nos conectava por completo em todos os níveis.
Eu me lembro de cada encontro de olhares, de cada diálogo de sorrisos, de cada afago espontâneo e sincero, de cada um dos seus perfumes entorpecentes, da maciez dos seus beijos, da cor da sua pele, da energia do seu calor, da intensidade da sua presença, dos apelidos divertidos, das conversas apaixonadas – tudo isso me dominava, e eu adorava ceder aos seus encantos. Às vezes, confesso, eu não te dei ouvidos, mas foi só porque eu devaneava ao sentir o presente e ao me perder nas possibilidades do futuro. Talvez eu quisesse te sentir de todas as formas, e talvez você achasse que eu a sentia apenas pela superfície, mas esse é o meu jeito. O amor tem várias facetas.
Se a minha palavra vale algo, confie em mim quando digo que eu realmente te amei de corpo e alma. Você foi perfeita em tudo, por mais clichê que isso soe. Eu me esqueci de mim e passei a viver em você. Minha missão era atender todas as suas expectativas. Ironicamente, eu falhei. Desculpe-me por não ter tido a maturidade para te satisfazer plenamente, mas eu compensei esse defeito em vontade. O atrito entre nós pode ter nos unido, mas acabou desgastando ambas as partes. Tenho a impressão de que tenho culpa integral na tragédia – para mim é uma tragédia. E tenho a certeza de que te assustei por algumas coisas que eu fiz. As minhas lágrimas eram por você e não por mim.
Você foi a melhor e a pior coisa que me aconteceu. Se eu pudesse voltar no tempo, eu não saberia dizer se eu daria ou não início à nossa breve história. Eu não sei se ainda tenho a capacidade de amar alguém, de trair o sentimento que tenho por você. Eu nunca deveria ter te entregado o meu coração. Eu me odiaria se eu não tivesse te beijado pela primeira vez. Eu nunca deveria ter dado uma chance a nós dois. Eu teria nojo de mim se eu não tivesse te dado tanta atenção.
Espero que você leia esta carta.
Eu amo você, minha idiota, para sempre.