Carta a um pai ausente
Pai,
É a primeira vez que eu escrevo para ti. Não pense que está sendo fácil, porque não está. Toda vez que ouço aquela música chamada "Pai" do cantor Fabio Junior, eu choro de tristeza, como estou começando a chorar agora escrevendo essas linhas. Pai, o que eu tinha de errado? Por que o senhor deixou a minha mãe assim comigo nos braços? Eu não entendo e nunca vou entender a figura de pai na minha vida, porque ela simplesmente não existe!
Será que o senhor não sabe como é difícil a mãe dizer para uma criança que o seu pai não é o companheiro dela? Será que o senhor não entende o que uma criança sente no dias dos pais? Todo mundo abraçando o seu pai, e você ali...Parado...Sem entender ao menos o que seria esse abraço. Não quero que sinta pena com esta carta, porque nem pena poderia preencher o vazio que eu sinto neste momento. Poxa, mas então você deve estar pensando: "Ela quer dinheiro! É só dar um pouco de dinheiro ai ela não ficará mais me perturbando". É engano seu! Se pena não vai mudar nada, imagina o dinheiro. Não quero dinheiro . O amor vale muito mais do que qualquer riqueza que há neste mundo. Mas cadê o seu amor? Espera aí, agora me lembro: O senhor disse a minha mãe que não queria responsabilidade. Então por que fez filho? Filho é responsabilidade! O filho precisa do carinho, amor, proteção, cuidado e amor dos pais. E o que o dinheiro traz? O dinheiro não traz nada de bom, só faz você se afastar das pessoas. Estou dizendo isso, porque sei que o senhor mora sozinho. Ninguém vai te visitar, até a sua filha você privou disso. "Não pode me visitar! A casa é uma bagunça". Que tipo de pai é o senhor? Um pai ausente? Sim, só pode. Não tem problema, eu ficarei bem aqui. Eu tenho pessoas que me adoram, e também uma mãe que sempre foi mãe e pai ao mesmo tempo. Eu tenho orgulho dela e de todas as mães que assumem o que faz! Mas os pais...Os pais precisam rever os teus conceitos, alguns pensam que é só fazer filho e o resto que deixe com a mãe. Não é assim não! Como disse, a criança precisa dos pais e não apenas só de um deles, senão ela cresce com a falta de uma parte que depois é só o tempo que pode tentar acalmá-la desde enorme vazio. É a primeira vez que eu escrevo. Já disse isso ao senhor lá atrás. E não sei se escreverei mais e não sei se esta carta irá chegar até o senhor. Eu precisava desabafar de alguma forma. A minha mãe nem gosta de falar desse assunto, e toda vez que eu falo nisso, o meu peito sofre e eu começo a chorar. Eu entendo a minha mãe de não querer nem procurar mais o senhor, para falar de mim, de como estou. Na época que o senhor fugiu, os seus pais(meus avós) diziam que eu não era sua filha. E com a sua fuga, minha mãe ficou falada. Não era bonito ser mãe solteira e até hoje não é, mas se bem que no Brasil hoje é fácil encontrar uma mãe solteira, porque alguns pais já perderam a vergonha na cara! Não me julgue! Se alguém mais ler esta carta, não me prive do seu entendimento!
É tudo verdade o que eu digo...Mas quem dera se fosse mentira, pai. Quem dera se tivesse sido tudo diferente, talvez eu não seria como eu sou agora: uma menina triste, uma menina que desejava ver o pai na reunião da escola, ou que queria ele fosse na sua festa de aniversário de quinze anos, ou que lesse a sua primeira historinha escrita, ou que apenas vesse o seu desenho pintado. Ou ainda uma menina que apenas desejava ter o seu pai ali ao seu lado para proteger da maldade deste mundo. Enfim, era só uma menina querendo que o seu pai deixasse de ser ausente e existisse na vida dela.
Paro por aqui...Esta carta vai chegar um pouco borrada com lágrimas. Não é ironia! É a vida que me deixou assim tão dura...A verdade doí, mas quero que o senhor a leia nessa simples carta. Se não quiser abrir ou me responder, não faz mal. Tudo que eu queria fazer era desabafar. Um desabafo de uma vida: não são todos que leem, mas os que leem passam a entender a realidade de uma outra perspectiva.
03 de agosto de 2014