AOS HOMENS DE PODER (Antígona Sec. XXI, Sófocles, com licença)

Eis-me aqui, meu senhor!

Não podeis, sobre meu cadáver

impedir que enterre aquele que condenastes.

Sim, sei que és rei!

Sei, todavia, que não és maior que os céus,

e que tu, assim como eu, e aos que virão,

igualmente perecerá.

Não no-lo rogo o que pensas ser minha vontade,

Porém, peço, exijo, que me ouças!

És rei, bem sei,

Morrerás, bem sabes.

A sepultura que negas àquele a quem condenastes,

não tardará, acredite, será seu leito eterno.

Me condenas, igualmente, se quiseres.

Penitenciada ou não, sei que já morri!

Minhas lágrimas correm pela minha face.

Correm por perceber que o escárnio com que trata os mortos,

negando-lhes o sepultamento, denota o gosto pelo posto que ocupas.

Poder!, nada mais que poder!

Ah, minhas entranhas doem; queimam como se lavadas em ácido.

Meu grito não atingirá a eternidade; não a desejo.

És o rei, não ignoro.

És senhor da cidade e de tudo que nela há,

Porém, não calarei, não calarei,

Mesmo que me mate e ordenas que não me sepultem

para que meu corpo seja devorado pelo tempo.

És o rei, eu sei.

Morrerás, eu sei.

Seu corpo se decomporá pelo tempo

e consumido pelos vermes, nisso somos iguais.