Obsoleto

Me tornei obsoleto desde que me recordo.

Sou um antigo modelo, de um ano passado, que enferrujado e velho, foi guardado com qualquer outra coisa que você não desejava mais em seu caminho.

Eu entendo, foi meu o vacilo de achar que seria sempre aquilo: eu aqui, você ali, e juntos conquistaríamos qualquer caminho que desejássemos seguir.

Era egoísta fugir um pouco do bom senso, apesar do consenso que havia entre nós, de que o mundo giraria quantos giros fossem necessários, e mesmo que deixasse de ser arbitrário, eventualmente, nossos caminhos primários se cruzariam novamente.

Dei um braço a torcer quando cai de primeiro para segundo, e de segundo atrás de todo mundo. E mesmo nas sombras, imóvel e mudo, te observar de longe me fazia sentir aquilo tudo que prometemos um ao outro.

Hoje em dia, te conquistar é uma utopia que escorre pelo olhar e morre nas águas do meio fio. É o frio, que bate, abate e me machuca, trazendo essa dor estranha e ininterrupta, que escala pelas vértebras, me gelando o corpo na medida certa para me fazer sentir falta de seu calor.

Mesmo juntos, já andávamos separados, agregados apenas pelo coletivo, pelo corretivo que insistíamos em passar em todas nossas manchas que insistentemente tendiam em manchar novamente, eternamente, para todo sempre.

Mas, desta vez, o caminho é meu e somente meu, e tudo o que pertencia a você, morreu. Estando morta, abro uma nova porta, rumo ao desconhecido - admito - mas tudo que é novo há de ser usado, e não guardado.

Assim como eu fui, assim como eu nunca serei novamente.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 01/07/2014
Código do texto: T4866355
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