AMIZADE E DIVERSA VISÃO ESTÉTICA

(para a estimada Delasnieve Daspet, escritora e ativista cultural)

Saúde e Paz. Que estejas bem e levando o barco com a competência com que o conduzes, pessoal e funcionalmente, para o bem dos agremiados em torno do Projeto Poetas del Mundo, criado por Ariasmanzo, meu bom e querido amigo chileno, com quem tive boas situações e prosas, no Uruguai, lá por 2004/05.

Como vês, eu e João, aqui, lado a lado, em mesa única, escrevemos nossas mensagens. Cada um na sua. Tanto na área intelectual como em nossas viagens.

João Justiniano da Fonseca, baiano de Rodelas, em seus 87 anos, é um homem bom, amigo, a quem quero como um pai, já que perdi o meu "velho" em 1987. Ele tem integridade de pensamento. Viveu e vive muito e intensamente. Não perdeu o lirismo, e é fiel à sua escola literária em poesia, onde o ritmo se identifica pela rimação.

Tenho exercido a antítese em seu processo intelectivo, sendo o permanente provocador. Ele tem poucos amigos no dia-a-dia e coube a mim, com prazer, ser o instigador sobre a concepção estética.

Um e outro buscam a síntese, porque sabemos que não nos bastamos. Por sua deficiência auditiva, ao discutirmos, elevo a voz pra que não perca nenhum vocábulo dito, e ele, como não ouve ou não convém ouvir, traduz por "gritos" aquilo que é o esforço pra que acompanhe a análise crítica sem perder nada.

Tarefa de amigo e de filho que deseja que ele chegue aos 100 anos com a extraordinária bonomia e lucidez que o caracteriza.

E que boa memória a dele: a da comparação de minha verve analítica com a do inesquecível Oswald de Andrade, lembrando, talvez, o grito dos modernistas da Semana da Arte Moderna de 1922. O mesmo Oswald inconformado, que acicatou até a ditadura varguista e o ditador de plantão o estigmatizou com a proscrição de imprensa, ao tempo do Estado Novo. Curiosamente, são os instigadores que ficam na memória intelectual da Nação. Fico feliz que ele tenha lembrado de mim por este viés tão honroso.

Nossa diferença é esta, e ele mesmo a consagra, como o fez agora, durante um papo literário à hora do almoço: ele escreve para si próprio e eu sempre tenho em conta o leitor, que é a quem desejo como portador e ruminador da mensagem, seja na prosa, seja na eterna poesia. E até acho que sou um razoável leitor, criterioso e afeito aos cânones da contemporaneidade.

Mas o que mais impressiona é a sua lealdade. Como a que faz agora, remetendo sua opinião por cópia a mim destinada. Isto é o que solidifica a nossa amizade. Ele é também a fonte antitética em várias situações práticas, de onde tiro ensinamentos.

Não é a toa que João exerce a presidência da Coordenação Deliberativa da POEBRAS NACIONAL: tem uma pertinácia que me espanta. A cada dia me surpreende. Com ele divido o peso da execução.

Afinal, com esta viajada que acabamos de fazer ao Amazonas e ao Pará, a POEBRAS totaliza 70 (setenta) Casas de Poetas em 18 (dezoito) Estados-Membros da Federação Brasileira. É muito chão a ser percorrido. E é muito difícil deixar os dirigentes satisfeitos com ações e medidas tomadas com vistas à expansão da entidade.

E sempre voltamos com as malas repletas de livros de autores novos, novatos e veteranos. Sempre temos de fugir do pagamento de excesso de bagagem, ao “leão faminto” das companhias aéreas.

E estas viagens sempre se dão por via aérea, devido às imensas distâncias entre uma Casa de Poetas e outra, às vezes de um Estado do Sul ao Norte do país, como acaba de acontecer com o nosso roteiro. Eu vim de Porto Alegre, João partiu de Salvador, e nos juntamos numa conexão em Brasília, e daí prosseguimos na mesma aeronave até Belém do Pará.

João é, realmente, feito de bronze, atleta levantador de peso e maratonista em nome da Poesia e de seu associativismo. Sua mala pessoal, desta feita, pesava cerca de seis quilos. Quase tudo em livros!

Fazemos esforço parecido com a de tua luta pelo associativismo virtual do POETAS DEL MUNDO, amada embaixadora do Brasil junto ao Futuro!

A Revista da POEBRAS SALVADOR sairá com a contribuição de todas as vertentes estéticas. Ela se destina a mostrar a cara prosaica e poética do Brasil. Um país continental que nunca terá uniformidades nem primazias estéticas, mesmo que se possam identificar cânones estéticos a cada período da história do Homem.

Mas isto em nada importa para a POEBRAS e, sim, o importante mesmo é o registro que fazem homens e mulheres comprometidos com o seu tempo, e lavram para o futuro suas anotações, no verso e na prosa.

Esta é a imensa vantagem de conviver num país jovem, que conta apenas um pouco mais de meio milênio de história. Nesta santa pátria do lirismo tudo está por ser feito, e nada é definitivo.

O certo é que alguns fazem mais que outros, para os felizes olhos e ouvidos da história recente.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2007.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/486219