DE MINHA QUERIDA AMIGA ROSELI BELGA, A ROSE.

Para o Bill. 16/05/2014

MATRIX

Aprendi há tempos que os efeitos das sensações, das impressões, das experiências que vivemos nos atingem paulatinamente aos poucos, porque vem em ondas. Ondas de energia. No contato com a vida, vamos decifrando o impacto das coisas em nós conforme identificamos tais efeitos. Demorei a entender isso. Tudo é energia e a energia funciona em ondas. Quanto mais elevada uma onda energética menor a onda e vice versa. Física. Hoje quântica.

Pois bem, fato é que em alguns momentos não queria perceber impacto de onda nenhuma. Em alguns momentos talvez devêssemos poder desligar o botão do olho que tudo vê e simplesmente planar. Mas percebi. Não me demorei muito na percepção, até porque queria encapsular outra percepção, mais suave que senti, deleitar-me com a figura, mas o fundo estava lá inexorável imagem impressa na minha mente.

Ao entrar na sala só a figura me vi. Sorriso aberto junto com os braços. Olhar úmido junto com o meu, sempre emoção este encontro. Abraço apertado, saudade funda, de todos os tempos, e, na sequência jorro de palavras, histórias, vidas, histórias.

...a cena vai se compondo sozinha conforme os segundos seguem. Apareceram os discos de vinil. Entre tantas coisas, por que justo os discos de vinil? Aqueles que me traziam lembranças tão intensas de uma vivência num pátio grande, com muitos jovens se debruçando na arte e pendurando suas capas num gradil, enquanto ele, a figura, sorria, andava e alinhavava. Alinhavava movimento, esta era uma das palavras dele, ou melhor, pra ele.

Ao entrar na sala o mesmo outro sorriso vi. O movimento no corpo não. O movimento estava em outro lugar. MATRIX. Outra escola, sem pátio. Carteiras vazias. Janelas amplas, tudo muito claro, tanta luz. O quadro negro verde sem palavras. A sala sem som. A mesa do professor cedia lugar aos aparatos do computador. Aparatos extensos que abriam caminho por sobre a mesa e adentravam, faziam elo, com as carteiras vazias. O lugar do professor: mediador do conhecimento. E ali estava ele, fazendo as suas coisas. Media a dor do conhecimento...

Do outro lado descansando enquanto esperavam, os discos de vinil. Outros. Saíram do gradil da arte espalhafatosa dos jovens ávidos no movimento intenso de sorrisos infinitos. Esperavam. Capas amareladas, silenciosos. Iam.

Não quero falar de esperança, porém não consigo deixar de. Ali estava. A pílula vermelha indestrutível. Aparentemente inofensiva. Disfarçada de preto revelava suas habilidades lentamente. E ela que congela o movimento das cenas, imagens, agora é o próprio movimento. O movimento agora é MATRIX. Virtual. Sem tristeza, sem arroubos. Só é.

Com carinho, Rose Belga

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 22/06/2014
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