De: Silvino Potêncio ... “Quentes e Boas!”
 
Há uns 4 ou 5 anos atrás eu recebi uma Carta do meu Amigo Ruy Miguel, onde ele me falava do lançamento do seu Livro cujo título era muito sugestivo e me despertou a atenção suficiente para eu guardar esta carta entre as muitas que por aqui tenho nos meus arquivos virtuais.
Tal missiva me chegou através do sítio (ou site como queiram lhe chamar) do Portugal Club que, como devem estar lembrados, trata-se de uma ONG (Organização Não Governamental) onde o Mentor liberava a publicação de tudo o que se quisésse lá escrever, da forma que cada um soubesse, e sobre qualquer assunto ou tema que lhe viésse a “talhe de foice”! --- E, com base nessa permissa eu passei a responder muitas cartas, muitos comentários que por ali transitavam até que um dia lhe cortaram o “pio”! ... Mas isso é outra “estória”... por agora voltemos
ao Rêgo!
 
A carta começava assim;        
 
"OS ÚLTIMOS HERÓIS DO IMPÉRIO"
 
Vou falar-vos hoje àcerca do meu livro "Os últimos heróis do Império", um projecto que começou a delinear-se nos anos 60 e que acabou por concretizar-se em 2006.
A razão da demora foi apenas a de ser um livro inconveniente para muita gente, - práticamente ignorado pela Comunicação Social - sobretudo para todos aqueles que não aceitavam a justiça da luta que travámos em Angola, Guiné e Moçambique, considerando-a não uma guerra justa, - em que nos limitámos a defender-nos dos ataques que nos lançaram - mas uma luta de opressão.
Nada mais fácil de contrariar, sobretudo pelo progresso que esses anos de luta despoletaram. A presença maciça das nossas tropas levou às três Províncias, em particular a Angola, um surto de desenvolvimento notável, reconhecido por personalidades que a visitaram e ficaram maravilhados com o que encontraram e não o deturparam no regresso aos seus países.
No sector da Educação a obra foi notável, quer pela quantidade de novos estabelecimentos de ensino, pelo acesso aberto a todas as etnias em comunhão e pela abertura da primeira universidade, em Luanda. Sem racismos obsoletos, brancos, negros e mestiços tiveram igual acesso aos diversos graus de ensino, beneficiando de cantinas e bolsas de estudo para todos igualmente.
Muitos - entre eles alguns que depois nos combateram - vieram fazer os estudos superiores em Lisboa, com bolsas de estudo, instalados na Casa dos Estudantes do Império.
Os naturais de Angola, em particular, integraram as Forças Armadas, chegando o número de mobilizados locais a ser igual ou mesmo superior aos militares idos da metrópole.
O mesmo aconteceu na Guiné e em Moçabique.
A integração dos naturais não era um artifício político mas uma realidade no sentido da promoção integral de todos os portugueses da Províncias, depois Estados.
A igualdade interracial era um facto aos olhos de todos os que quiseram ver a realidade, sem sectarismos políticos.
"OS ÚLTIMOS HERÓIS DO IMPÉRIO" nasceu com o firme propósito de ser uma homenagem a todos os combatentes e de ser uma obra que pela sua estrutura e apresentação fosse um livro para guardar, uma recordação de feitos, de horas boas e más, como as há em todas as guerras.
Quisemos que todos os combatentes condecorados tivessem nele inscritos os seus nomes, alguns dos mais heróicos com uma súmula dos seus feitos, mesmo os que morreram em combate sacrificando a vida no altar da Pátria.
Contém o relato mais completo de todos os que agraciados com a Torre e Espada, Valor Militar e Cruz de Guerra - nome, graduação e condecoração recebida, assim como o ano em que foi atribuída.
Abre com uma foto do Monumento a Luís Vaz de Camões, o poeta da Raça, também ele combatente no Norte de África, onde perdeu um olho.
Uma estrofe de "Os Lusíadas", aquela em que ele escreveu "E aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando.
- Uma dedicatória do autor "A todos os portugueses - Marinheiros, Soldados e Aviadores - que deram o melhor de si, milhares a própria vida, numa guerra que não desejaram.
Brancos, negros e euroafricanos, mas todos portugueses de alma e coração, unidos no mesmo espírito nacional, souberam honrar a Pátria e dar maior lustre à Bandeira Nacional, perante a qual juraram dar a vida.
Para que o seu sacrifício, que já pertence à História, jamais possa ser esquecido pelas novas gerações. Que a sua dedicação seja exemplo para quantos queiram servir Portugal na carreira das armas.
"Portugal é obra de soldados".
O prefácio é do ilustre General Silvino Silvério Marques, que foi Governador Geral de Angola e Comandante-Chefe das Forças Armadas.
Nele escreve, em dada passagem, aquele ilustre oficial general:
"Com a relação de baixas por morte nos anos de guerra é testemunhado o sacrifício oferecido pela adesão do povo português de Aquém e Além - Mar à defesa da sua Pátria tal como a conheciam e a amavam, até que um golpe de poucos militares provocou a desistência dessa defesa.
Aos que pretendem justificar tal desistência afirmando, em reiterada difusão, que era uma utopia a Nação Una que se defendia, esquece-se que já tal "utopia" havia também sido antes defendida, com semelhante sacrifício, no mesmo século, em França, em Angola e em Moçambique, com o empenhamento do General Norton de Matos. - E que este, conhecedor, como poucos, do Ultramar onde servira, e insuspeito, sentira necessidade, já em 1953, de exortar os "Novos de Portugal" dizendo-lhes: "Se alguém passar ao vosso lado e vos segredar palavras de desânimo, procurando convencer-vos de que não podemos manter tão grande império expulsai-o do convívio da Nação".
Depois um breve historial do dia 10 de Junho - Dia de Portugal e de Camões e das cerimónias militares que nesse dia serviam para entrega solene das condecorações, no cenário do Terreiro do Paço, onde formavam milhares de homens dos três Ramos das Forças Armadas e Escolas Militares. Cerimónia solene presidida pelo Presidente da República e Comandante-Chefe das Forças Armadas.
Toda a beleza de uma cerimónia de alto significado que era vista por milhares de pessoas.
Insere seguidamente o testemunho de jornalistas, que foram também combatentes e entrevistas com os condecorados com a Torre e Espada.
Uma resenha das mais altas condecorações entregues, por feitos em combate e os nomes e feitos dos que a receberam, alguns a título póstumo.
Entrevistas com condecorados e depoimentos de ex-combatentes de várias patentes - de Almirantes, Generais a Capitães e Sargentos falam-nos de diversas situações e de mortes ocorridas traiçoeiramente depois de terminadas as acções de combate.
Depois vem a relação de todos os condecorados da Marinha, Exército e Força Aérea - a mais completa até agora publicada e, por fim, os nomes dos que deram a vida pela Pátria e se encontram gravados nas placas colocadas na parede do Forte do Bom Sucesso, por detrás do Monumento que recorda para a eternidade o seu sacrifício pela Pátria.
Por último, a encerrar as 300 páginas do volume, algumas palavras que terminam: "É mais uma página da nossa História Militar em que os portugueses honraram as mais nobres tradições castrenses".
É um pesado volume em papel couchet com sobrecapa e capa rígida, gravada a letras de ouro, digno de ser guardado em lugar de honra e mostrado às novas gerações, como herança da bravura de seus pais...
 
A esta Carta do Escritor Ruy Miguel, aqui resumida de forma sucinta e coerente,  eu respondi-a então mais ou menos assim:
 
Caro Amigo Ruy Miguel (permita-me...) 
Antes de tudo apresento os  meus cumprimentos e votos para que continuemos a poder ler neste espaço os seus comentários que, sem dúvida, enaltecem o ego de qualquer cidadão de bem, nascido em terras Portuguesas, não importa se Aquém ou Além Mar...
Infelizmente, e pelos  motivos que já conhece, eu não tive ainda acesso ao seu livro que, todavia o irei ler assim que me for possível, mas já sinto uma pontada de angústia pois tenho certeza de que nele vou encontrar memórias de muitas coisas por nós vivenciadas e rememoradas em velocidade galáctica pois só a alma humana tem condição de viajar no tempo em todas as direcções!
A grande maioria dos homens e mulheres da nossa geração, tivémos a honra e glória de por lá ter passado, uns bem outros nem tanto! Alguns mais glorificados outros nem sequer lembrados, mas... todos, sem excepção deixámos um grande pedaço das nossas esperanças, dos nossos sonhos, das nossas expectativas de vida independentemente de qualquer cor ou raça política que hoje dominam a mentalidade da totalidade da geração herdeira de tais valores!...e... no final das contas, que decepção!!!
Algumas (muitas) luas já se passaram desde que eu elaborei uma minha crônica alusiva ao final da campanha da última eleição para Presidente da Republica Portuguesa, e nesse meu "escrito" cataloguei em forma de chiste apenas DEZ ilusões sofridas sôfregamente ao contactar com a realidade actual em contraposição à de décadas atrás!!!...
É a lei da vida, dizem os céticos... é a evolução natural da humanidade, dizem os universalistas... é a traição em carne e osso, dizemos nós!... com provas e tudo o  mais, que fosse exigido em tribunal de Juízes não Meretrizimos (*)  porque a "sacagem" foi, é!!!.... e ainda o vai ser por mais tempo!... por muito tempo!
-  Tanto que nem nós poderemos evitar de a isso sucumbir,  porque na derrota não há glória!
Somos todos vitoriosos quando o sangue  bom nos corre pelas veias!
- hoje recebi imagens de Moçambique de 200 anos, melhor dizendo são imagens da capital Maputo nos últimos 200 anos, e isso não há Santos nem Almeida, nem Garis, nem Trolhas, nem Sapateiros da Política saloia que os apaguem para sempre.
- recebi também, lembranças da minha Aldeia, então coberta de castanheiros, e lhe fiz esta ode muito rápida...
 ... De todas as tradições que me remetem às origens na Aldeia de Caravelas, as lembranças das castanhas e do seu tempo, são talvez as mais influentes!
Foi num "magusto" no Lameiro da Sarnada, que o Ti Zé Artur em conversa com o dono das terras que ele guardava e fabricava, que ali foi decidido o meu destino de ir estudar para Macedo de Cavaleiros.
- Foi num magusto no ano seguinte ao de eu completar o segundo ano dos Liceus  em Bragança,  que foi ali também decidido a minha ida para Lisboa, sózinho aos 13 anos de idade... e aqui começou a minha vida Emigrante. 
A ultima vez que as comi foi na entrada do Metropolitano no Rossio!...

 "quentes e boas"!!!!!!!,... vendidas à dúzia, quando lá,  as comíamos aos quilos!,  e até nos sobravam tantas vezes para dar aos animais!!!... e mais não digo porque não posso, de emoção!.... qualquer dia aqui escreverei algo mais sobre isso.
 
(*) Juiz Meretrízimo é aquele que julga poder ajustar a vilaneza, à prostituição desregrada da ordem publica tão pouco púdica que por aí grassa, de graça, nos dias de hoje!!!
 
- As Castanhas são “quentes e boas!”...e neste escambo sempre vendemos seis por meia dúzia!!!!... quem quer castanhas???... Quentes e Boas... 

Valeu amigo Reinaldo do MGM – Memorias e Gentes de Moçambique!!!... agradeço de público pelo envio de tais imagens do Moçambique de outras eras.
 

Silvino Potêncio - Emigrante Transmontano
Ex Combatente – Ex Residente – Ex Retornado – Eis Criba Avulso – Ex Pulso do Gueto Aulgarveschwitz – Ex Comungado do IARN
(actualmente residente em Terras de Clara Camarão, Mulher do Índio Felipe Camarão... um Nobre Guerreiro Potiguar combatente da ocupação Holandesa de Terras da Coroa de Portugal... que de alguma forma consideramos MAIS UM HERÓI DO IMPÉRIO)  
 
 Natal, 22 de Novembro de 2009

Nota do Autor: um pouco antes do Falecimento deste meu Amigo Virtual que escreveu este Livro, ele me escreveu a contar da sua condição física e financeira já então debilitada mas que tinha intenção de me mandar o Livro Autografado! mas... a morte o levou antes de ele cumprir esse seu desejo. Fica em PAZ  Amigo Ruy Miguel.  
 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 01/06/2014
Reeditado em 13/02/2017
Código do texto: T4828447
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