Carta 001 - Parque da Luz

Segunda-feira, 21 de janeiro de 2013.

Grande amigo Iago,

Como está?

Por aqui está tudo nos conformes.

Resolvi lhe escrever, não somente pela saudade, mas, como você disse que gostaria de vir para o Brasil, visitar São Paulo, quero descrever um passeio que fiz aqui. Quem sabe não lhe aguça a vontade e venha logo.

O que eu acho interessante é que eu moro há muitos anos nessa cidade, e percebi que não conheço seus pontos turísticos. Alguns sim, mas a maioria não. Portanto, decidi que vou me esforçar para visitar com mais frequência essas atrações e lhe enviarei um e-mail relatando como foi o passeio. Pode ser?

No sábado de manhã, acordei e tive que ir para o inglês. Geralmente meu curso de inglês é durante a semana, mas tive que ir num sábado para repor uma aula. Minha noiva estava em casa, dando uma ajeitada nas coisas. Como estávamos de folga, quando voltei, decidimos ir passear em algum lugar. Não estava a fim de ir ao shopping, porque é o lugar que geralmente vamos. Teríamos ido se estivesse chovendo, mas como amanheceu com o tempo aberto, procuramos ir a outro lugar, um lugar diferente. Nessa época do ano, o tempo fica muito instável. Ora o tempo abre e faz sol, ora ele fecha e chove tempestade.

Já fazia um tempo que queria levá-la à Rua José Paulino, porque ela precisa comprar uma camisa branca, para o trabalho, e apesar de nunca ter ido, umas amigas do serviço me disseram que é o lugar ideal para comprar roupas. A José Paulino é uma rua de comércio onde só vende roupas, na maioria femininas. É como a 25 de março, que vende de tudo, ou a Sta. Efigênia, onde são várias lojas que vende eletrônicos.

Pesquisei no Google e vi que fica perto da estação da Luz. É super fácil chegar, principalmente porque moro perto da estação Tucuruvi, do metrô (onde logo será inaugurado o shopping metrô Tucuruvi!). No entorno da estação da Luz, existe muitos pontos turísticos, como a Pinacoteca do estado, o museu da Língua Portuguesa, o Parque da Luz, enfim, muitos pontos.

Depois que voltei do inglês, ainda fiz uma horinha em casa e saímos por volta das 11h30. Pegamos o metro na estação Tucuruvi e partimos. O metro não é cheio nessa hora, mas você precisa ver em horários de pico, principalmente em dias de semana! Um verdadeiro mar de gente. E não é um mar tranquilo não. Um mar com ressaca! Não deve ser muito diferente aí da Cidade do México. Centros urbanos geralmente sempre tem os mesmos problemas, não é?

No caminho, percebemos que estava ficando com fome. Ela também. Queríamos comer alguma coisa, mas não conheço muito a região. Acreditava que deveria ter um McDonald’s ou algo assim. Ficamos na dúvida se devíamos ir primeiro em algum outro lugar, comer. Ficamos tentados em ir ao Burguer King, no shopping metrô Tatuapé, mas desviaria muito a rota, então resolvemos procurar algo na Luz.

Vou ser sincero, como não conheço muito essa estação (apesar de descer nela todo dia, pra fazer baldeação pra linha vermelha), fiquei meio perdido na hora de achar uma saída. Você deve ir seguindo as placas. Fomos seguindo a que dizia “saída / Pinacoteca”. Ao localizar a escada, fiquei surpreso ao ver o quanto estávamos no subsolo, pois a escadaria é quilométrica. E não é rolante. Prepare-se quando vier.

Na mesma calçada da saída, fica a Estação da Luz, da CPTM, onde há também o museu da Língua Portuguesa. Só a construção da estação já é um espetáculo por si só! Um prédio estilo inglês com uma torre do relógio, uma cor amarelo claro. Foi restaurado não faz muitos anos. E do outro lado da avenida, fica a Pinacoteca do Estado, ao lado do Parque da Luz.

Mas primeiro: achar um lugar para comer.

Perguntamos ao guarda da portaria da Pinacoteca, onde encontraríamos um restaurante.

__ O melhorzinho que você vai encontrar, fica seguindo essa rua, no final dela. __ E apontou para o final da avenida, seguindo em direção ao parque da luz.

__ Obrigado! __ e depois que nos afastamos, comentei com minha noiva __ Meu Deus, se ele nos sugeriu o “melhorzinho”, o que dirá do “piorzinho”...

__ Devíamos ter ido ao Burguer King... __ disse ela.

Nesse pedaço, a rua não tinha muito movimento. Pelo menos não naquele momento, apesar de ao lado, ser o parque. Ao chegarmos na esquina, encontramos a José Paulino e nos pareceu um outro mundo, com muito movimento, lojas, pessoas, lojas, carros, lojas, camelos... um empurra empurra, invade pista e desvia, mas nada para comer. Perguntei para uma moça de uma barraquinha de camisetas, onde poderíamos encontrar um restaurante. Ela nos apontou um, mas não fomos muito com a cara.

Continuamos seguindo, com a barriga já roncando. Olhávamos as lojas. Minha noiva encontrou a camisa branca, que procurava, mas só tinham tamanho G, e ela usa a P, então não adiantaria. Seguimos descendo a rua e encontramos uma galeria mais sossegada. Entramos e vimos uma placa de restaurante. Sentimos o cheiro também. Aquela galeria era bem tranquila e muito bonita. Porém, os restaurantes eram demasiados caros, e além disso, estávamos procurando alguma coisa mais descontraída, como uma lanchonete, não um lugar sofisticado.

Fomos encontrar uma pastelaria numa outra galeria, alguns minutos depois. O tempo estava aberto e o lugar era bem iluminado, pois as telhas da galeria eram claras e altas. Comemos pastéis com um molho especial do chefe (nada secreto,pois sentimos o gosto do pimentão). Muitíssimo bom! Eram bem recheados e bem temperados. Com a barriga cheia, aproveitamos mais o passeio.

Ela decidiu não comprar mais a camisa, iria procurar em outro lugar, mesmo porque, as roupas expostas nas entradas das lojas, eram mais coloridas. Pressupomos que não venderiam social. Para sair da José Paulino, o mesmo empurra empurra, invade pista e desvia, mas voltamos à rua calma e deserta.

Olhei para o céu e vi que o tempo começava a virar. Realmente, nessa época do ano não há dias de sol e sim, momentos de sol. Como queria conhecer o Parque da Luz, resolvemos ir primeiro nele, antes da chuva, depois iríamos na Pinacoteca.

Iago, meu amigo, você não pode imaginar que oásis é aquele, claro que não é tão grande quando ao Parque do Ibirapuera, não se compara, mas para quem estava numa muvuca como a José Paulino, ali, estava no céu. Encaminho algumas fotos para você ter uma ideia. Foram tiradas pelo celular, porque nos esquecemos de levar a câmera, mas, apesar disso, ficaram boas.

Referente à primeira imagem que lhe encaminho no envelope, não fica exatamente na entrada do parque, mas bem perto dela. É um espelho d’água, com esculturas nos vértices e no centro, uma fonte. As águas estavam verdes e cheias de folhas, mas penso que esse é o charme do lugar. Nessa imagem não é possível ver, mas o parque estava lotado! Muitas pessoas andando, fazendo exercícios, lendo, crianças brincando, turistas (como eu, mas que vieram de fora). É muito incrível imaginar o quanto não conheço minha cidade e, enquanto lhe escrevo, estou cada vez mais motivado a visitar e conhecer essa cidade na qual me orgulho de ser paulistano.

Nesse mês, São Paulo completa 459 anos e, a revista Veja publicou uma matéria especial sobre as primeiras e últimas vezes que fatos ocorreram na cidade, como, por exemplo, a última vez que um bonde movido à cavalo andou pela cidade, a única vez em que um dirigível sobrevoou São Paulo, em fim, fatos históricos (ou simplesmente curiosos) que nem fazemos ideia que foram aqui, por ruas que passamos todos os dias.

No parque, foi construída uma gruta artificial. Eu não tirei foto da gruta, e nem da cachoeira que dela cai (mas prometo tirar da próxima vez que for lá), masuma nas fotos que lhe encaminho é uma das imagens que temos de cima dela. Ainda que alta, não é possível ver a extensão de todo parque, pois há muitas árvores.

Minha noiva estava encantada com o parque. Ela mora numa outra cidade e, como muitas pessoas, tem a visão de que São Paulo é somente poluição, movimento, crimes, não tem ideia do outro lado de São Paulo.

Continuamos andando pelo parque. Havia uma roda de violeiros, tocando e catando animados. Eram dois senhores velinhos e felizes, e muitas pessoas ao redor dos dois.

Encontramos outro espelho d’água, bem menor que o primeiro, mas tão bonito quanto. Com carpas nadando sob os pés da escultura de Diana, deusa da caça, segundo a mitologia grega e romana. Espero que não tenha sido nesse lago que ela transformou um homem num animal, só porque ele a viu se banhar... Tem um animal atrás dela...

E você não imagina o quanto não ficamos surpresos ao descobrirmos que sob esse espelho d’água,há um mini aquário subterrâneo. Verdade! Foi minha noiva quem descobriu, porque viu umas cabeças se mexendo no fundo, através de um vidro.

__ O que são aquelas cabeças!?

A entrada é pequena e escura, se não tivéssemos visto pessoas entrando ali, jamais teríamos entrado. Mas achei aquilo incrível. Também não tirei foto da entrada, nem do caminho lá dentro, que era super estreito. Mas tirei foto de um peixe, como pode encontrar numa das fotos.

Fantástico encontrar essa atração no parque!

Durante a caminhada também encontramos um roseiral, com flores vermelhas, rosas, amarelas e brancas, muito lindo, mas sinceramente, poderia estar mais bem cuidado, com a grama aparada. Elas altas, dava um ar de abandono.

Além disso, há muitas esculturas, obras de arte espalhadas por todo o parque.

Foi um passeio muito bom e que aproveitamos bastante.

Uma árvore enorme, que achei um espetáculo. Eu não tirei foto, mas nessa área, há um programa de leitura, onde é disponibilizados jornais e revistas do dia para a população. Havia muitas pessoas lendo.

Ouvimos algumas trovoadas e decidimos entrar na Pinacoteca. Ali pelo menos estaríamos protegidos da chuva que prometia.

Antes disso, porém, tirei mais uma foto que, ao ver, é muito simples, mas, mania própria, adoro bancos de praças de parques:

Não acha pitoresco?

Saímos do parque e fomos até a Pinacoteca. O guarda que pedimos informação ainda estava lá, mas não nos reconheceu.

Aos sábados, a entrada é franca. Subimos as escadarias e entramos na recepção (sem antes deixar de guardar minha mochila no guarda volumes). A recepção é ampla, disponibilizando folhetos e revistas. Entramos no salão octogonal e vimos a exposição de um artista chamado Artur Lescher.

Refere-se, à abóboda que estava no projeto original do prédio, mas, não sei por que, nunca foi construída. Então esse artista à fez, porém invertida. O nome dessa exposição é “inabsência”, que, segundo li no folheto, significa a “presença do que estava ausente”.

Meu amigo, vou ser sincero, não sou conhecedor profundo das artes, portanto, me perdoe se cometer verdadeiros crimes contra as artes, ok?

Começamos visitando as primeiras salas, subimos um lance de escadas, até o primeiro andas. A chuva já começara a cair e em poucos minutos transformou-se em tempestade. Encontramos uma varanda, na qual consegui tirar essa foto, do lado de fora.vVê-se um chafariz com árvores antigas, coberto pelo branco névoo da chuca.

Além disso, não conseguia ver mais nada, pois estava tudo branco pela chuva.

Foi possível ver alguns quadros interessantes, como “O importuno” de Almeida Junior e muitas esculturas também. A Pinacoteca também estava bem movimentada.

De repente, as luzes começaram a piscar e tudo ficou no escuro. Não totalmente, pois o salão octogonal tem teto de vidro, e é bem amplo, mas os funcionários pediram para que todos se dirigissem à recepção e aguardássemos o retorno da energia.

Não houve nenhum tumulto, estavam todos bem tranquilos e nós também estávamos, naturalmente. Só reforço isso, pois, na sua imaginação pode ter pensado que ficamos apreensivos, enfim, isso não aconteceu.

Ficamos um bom tempo na recepção, entupida de gente. A chuva diminuiu, mas a energia não voltava. Resolvemos então ir embora e retornar outro dia.

Nessa próxima oportunidade, lhe descrevo melhor sobre as obras e os artistas, porque dessa vez, ficaria algo muito curto e inacabado. Quem sabe, também me preparo melhor para lhe falar sobre arte, evitando pagar grandes micos...

Minha noiva e eu voltamos para casa, ainda estava cedo, não era nem 16h. Passamos na padaria, chegamos e tomamos café. Depois disso, dormimos, assistindo televisão, ouvindo a chuva que caia.

Meu grande amigo, espero que tenha gostado desse relato e prometo que em breve lhe encaminho sobre novos passeios.

Fique com Deus e mande abraços para todos.

Seu amigo,

Murilo Torres

Anderson Gorgone
Enviado por Anderson Gorgone em 24/05/2014
Código do texto: T4818229
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