Um dia me despeço

Se eu pudesse deixar essa vida iria, assim, feliz.

Nem contaria que estive aqui ou as pessoas que conheci.

Seguiria reto, no caminho e na postura.

Não olharia para trás. Nem lágrima derramaria. Ninguém me veria chorar.

Esqueceria minhas falhas.

Os problemas do mundo não seriam meus.

E meus problemas não seriam sabidos por todos

Seria rajada de vento. Sem forma, sem cor, sem cheiro, invisível.

Nem fumaça, nem neblina ou frio. Só vento. Só ar.

Se eu pudesse deixar essa vida, não escolheria saída.

Fugiria pelos fundos ou pela frente.

Sumiria pela janela entreaberta ou pela fresta da porta.

Deslizaria do alto em encontro ao chão. Iria de encontro ao nada. E fim.

Sem um feixe de luz, sem nada a balbuciar.

Escaparia sem me despedir. Flutuaria no céu sem pedir licença.

Enquanto esse dia não chega, debruçada no parapeito da janela, espero minha vez chegar.

Tanta coragem. Tão covarde. Tão primitivo. Tão humano.

Suspiro.