Saudades de Alaíde, minha mãe.
Taguatinga, 19 de maio de 2014
Querida, mãe:
Mais uma tarde de chuva, e quando o tempo escurece, eu posso chorar. Minhas lágrimas, cor de nada, se parecem com a chuva que cai lá fora... o para-brisa corre de um lado a outro, corre como os meus olhos à sua procura. Onde está você, mãe, nesse tempo cinza, nessa tarde fria, desse dia triste. A sua falta me corrói o peito de um jeito que não há como explicar. É dor de parto, sem filho depois.
Posso te ver na mulher que passa apressada com pequenas sacolas de mercado, te vejo caminhando pela alameda de árvores enfileiradas, sem temer a chuva que vem, varrendo a calçada na frente de sua casa, esperando os netos chegarem da escola...
Outro dia, por pouco não gritei: mãe! Ao vê-la passando ao longe, no vai e vem das pessoas no comércio. Mas, não era você...
Sinto a sua falta. O ar me falta. Me falta o chão.
'E, as pessoas na sala de jantar são só as pessoas na sala de jantar.'
Nada faz sentido sem a sua voz, sem o seu sorriso aberto, acolhedor. Eu sei que você não gostaria que eu dissesse isso. Mas, não faz sentido...
O que eu queria mesmo era ouvir a sua voz completando o nosso trocadilho da hora do almoço, lembra-se:
_Oi, mãe...
_ Oi, filha...
E essa brincadeira era tão natural, tão espontânea, tão nossa, tão íntima como só mãe e filho podem ser.
Estou dilacerada, me questionando, clamando a Deus. Meu peito está ferido e me dói uma dor tão humanamente real, que até poderia dizer que estou doente. É dor de morte que não mata, pelo contrário, te obriga a viver.
Te amo demais e sinto muitas saudades. Se puderes, dá um beijo no pai por mim.
Da sua sempre filha,
Adelaide