CARTA A GISELE BÜNDCHEN
Querida Gisele Bündchen,
Sei da distância estratosférica que nos separa e, à primeira vista, eu não deveria alimentar a menor esperança de que pudesse chamar sua atenção. Mas vou tentar assim mesmo, ancorado na teoria dos seis graus de separação e porque você é meu último recurso. Quem sabe minha voz chega até a grande estrela, que espraia seu brilho e talento no espaço publicitário de uma operadora de TV por assinatura que transformou o céu em logomarca!
Mas serei breve, pois é óbvio que você tem coisas mais importantes para cuidar. Vou dizer apenas que, depois de sucessivos problemas de sinal e imagem na maioria dos canais disponibilizados, cancelamos (eu e minha esposa) a assinatura do serviço que você anuncia tão glamorosamente aos quatro ventos. Os problemas não foram resolvidos porque o técnico da empresa não realizou nenhuma das inúmeras visitas agendadas e não justificou nenhuma ausência. Descaso total.
Sem conserto, vivenciamos uma verdadeira saga para cancelar a assinatura: protocolos, ligações, religações, tempo de espera bíblico no telefone. Para, no dia seguinte, recomeçarmos da estaca zero. Novos atendentes, protocolos, ligações, transferência de ligações e a terra girando em torno de si mesma. Moto-contínuo. “Quousque tandem Catilina...?
Finalmente, depois de quase dois meses, conseguimos o cancelamento. Aleluia! E recebemos uma notificação extrajudicial exigindo o pagamento ou a devolução do respectivo equipamento, sob pena de termos o nome lançado no SPC. Nesse ponto iniciou-se outra epopeia. Depois de atravessar a cidade com o material reclamado, constatei que o endereço fornecido é fantasma. Ninguém, ali, representa o remetente da notificação. Voltei com os despojos.
Mas não desisti (“um filho teu não foge à luta”) e agendei um horário para entregar, em casa, os badulaques. Depois agendei outro...e outro...e outro. E continuo agendando e esperando, em vão, como um fantoche, que o pessoal venha recolher esse rebotalho de um serviço mal prestado. Esperando Godot.
Mas não posso esperar muito tempo. Pesa-me nos ombros a idade. Os anos dobram-me os ossos. E eu não gostaria de levar para o túmulo o carimbo de mau pagador, não gostaria que gravassem em minha lápide um nome de passado duvidoso.
Por isso, querida Gisele, eu suplico que interceda em nosso favor. Principalmente agora, que você é a grande chefona de La Famiglia. Mande um serviçal apanhar esses cacarecos e eu descansarei em paz. Ou melhor: venha você mesma (por que não?). Venha conhecer a hospitalidade mineira. Teremos (eu e minha esposa) o prazer de lhe servir um “cafezim” com pão de queijo. E de lhe devolver o bordão televisivo: “você na frente, sempre.”
Atenciosamente,
PS: My best regards to Tom Brady.